Opinião

Artigo: A questão da procriação

Correio Braziliense
postado em 08/02/2020 04:14
Um dia desses, duas colegas conversavam sobre formar família. Elas não têm filho e não pretendem engravidar. Eu nada comentei, até porque não participava do diálogo, mas aprovei a decisão delas. Acredito que mais mulheres deveriam adotar postura semelhante. Quero deixar bem claro que minha posição não tem a ver com apoio a aborto, um crime hediondo, nem com a mentalidade de que filhos atrapalham a vida pessoal, social e profissional. Tampouco rezo pela cartilha de grupos como o Childfree — eles abominam a ideia de procriar, não gostam de crianças e lutam pela restrição do acesso delas a espaços públicos, para não serem “importunados”. Uma atitude deplorável, diga-se. Para mim, independentemente de qualquer coisa, crianças são maravilhosas e enchem nossa vida de alegria. Tê-las por perto é uma bênção.

Minha preocupação, para além das externadas por minhas colegas — de que renunciaram à maternidade por conta da crescente intolerância da nossa sociedade e da superpopulação do planeta —, está ligada à percepção de que a humanidade é cada vez mais cruel com crianças e adolescentes.

A despeito do conhecimento que adquirimos, dos avanços espetaculares em áreas diversas, estamos regredindo no trato com o próximo, especialmente com os vulneráveis. Já deveríamos ter evoluído ao ponto de convergirmos para a proteção deles. Nada mais distante. Meninos e meninas continuam sujeitos a todos os tipos de violência.

Uma violência que, na maioria das vezes, acontece dentro de casa. Os algozes são, principalmente, os pais. É uma lástima que certos tipos de mulheres tenham a capacidade de conceber, que algumas castas de homens não sejam estéreis. De má índole, colocam filhos no mundo apenas para negligenciá-los, maltratá-los.

Confesso um aperto no coração toda vez que vejo uma grávida. Fico inquieta quanto ao destino do bebê que ela carrega. Vai receber afeto e proteção ou será desprezado, abusado? E, caso tenha um lar amoroso e seguro, como será da porta para fora, neste mundo crescentemente perigoso? São pensamentos sombrios, mas, infelizmente, alinhados com a realidade.

Em suma: o ódio exibe apenas curva ascendente neste planeta? Creio que sim. Já temos gente demais? Com certeza. O futuro da Terra está ameaçado? É o que apregoam especialistas. Mas, para mim, o que deveria suscitar dúvidas sobre procriação é a violência contra crianças e nossa total incapacidade de freá-la.




Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags