Correio Braziliense
postado em 11/02/2020 04:16
Não é novidade para ninguém que há tempos está difícil discutir sobre qualquer tema no Brasil sem cair em um Fla-Flu de baixa qualidade. As redes sociais, então, são pródigas em discussões que frequentemente degeneram para termos agressivos, exacerbação de opiniões, troca de ofensa, xingamentos ou baixaria completa. Esse pugilato verbal costuma ser estéril. Traz pouco ou nenhum resultado prático, exceto o fato de dificultar ainda mais a liberdade de pensamento, a divergência, a negociação, o entendimento, o diálogo. Em uma palavra, a democracia.
Tampouco é novidade que há anos o Brasil alimenta um ambiente de ódio. Em um país historicamente marcado pela desigualdade, a intolerância tornou-se cotidiana e, ironicamente, democrática. A munição de disparos verbais é farta: a esquerda provocou o maior roubo da história do país. Quem admira os militares defende a ditadura. Policial é a favor de matar bandido. Advogado trabalha para livrar a cara de bandido rico. Ambientalistas servem para atrapalhar o desenvolvimento econômico. Artistas só estão preocupados em ganhar mais uma boquinha do poder público. E jornalistas só deturpam as palavras do entrevistado. Os clichês são intermináveis.
O atual governo não inaugurou esse estado das coisas, foi eleito em meio a um ambiente que já estava deflagrado. Mas manteve a estratégia de fazer política a partir do confronto, talvez por entender que é preciso firmeza para romper hábitos, equívocos e resistências que se perpetuam há anos, décadas, séculos no Brasil. Outra possível explicação é que alguns integrantes do governo federal ainda não se deram conta de que se tornaram pessoas públicas. E aí vem o problema: pessoas públicas devem, sim e sempre, medir o que dizem. Não podem expressar a primeira estultice que vem à cabeça, por uma razão muito simples: os danos causados por uma palavra maldita são sempre maiores do que as tentativas de repará-la. É uma tarefa inglória. Algo como querer remendar cristais.
O ministro Paulo Guedes percebeu que utilizou palavras inadequadas para tratar dos servidores públicos. Pediu desculpas, com a expectativa de que o desastre da semana passada não comprometa as negociações da proposa de reforma administrativa a ser encaminhada ao Congresso. Foi um gesto para se absolver de uma tentação comum neste governo: recorrer a generalizações. Convém alertar Guedes e outras autoridades que adoram causar: há servidores que trabalham muito, políticos que são sérios, jornalistas que tratam a informação de modo profissional. Evitemos, pois, generalizar.
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