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Correio Braziliense
postado em 15/02/2020 04:14
Rodoviária e o pavão

Lembrava, com propriedade, o filósofo de Mondubim sobre as aparências superficiais e enganadoras, que “o pavão de hoje pode ser a alegoria do carnavalesco ou simplesmente o espanador de amanhã”. Essa imagem vem a propósito da beleza arquitetural de Brasília, admirada em todo o mundo como exemplo acabado e bem-sucedido da arquitetura moderna.

Depois de percorrer os vários cantos da cidade onde despontam exemplos do bom urbanismo e da arquitetura, idealizados num tempo em que o respeito pela escala humana e pela harmonia guiavam livremente os desenhos sobre as pranchetas, o visitante que terminar seu périplo na área central da capital, ou mais precisamente na Rodoviária do Plano Piloto, tem um choque de realidade, se redescobrindo em pleno terceiro mundo.

Nesse ponto ficam bem visíveis os pés do pavão, mostrando o poder do tempo e do descaso em desfazer o sonho de cidade que se quis patrimônio cultural da humanidade. Não há como esconder que o principal terminal rodoviário de Brasília, que forma a junção dos quatro primeiros eixos de integração, e que deu partida para sua construção, se apresenta hoje, aos olhos de todos que por ali passam, como um dos mais feios e mal acabados cartões-postais da capital.

Abandonada, suja e perigosa. Esses são os principais adjetivos aplicados à Rodoviária, não só pelos turistas que por ali se arriscam, mas por aqueles que têm esse terminal como ponto obrigatório de chegada e partida diária. Não é por outra razão que muitos brasilienses simplesmente evitam aquela região. Ao longo dos anos, no entra e sai de governos, a Rodoviária foi sendo submetida a um rotineiro exercício de obras emergenciais, mas nunca conseguiram devolver seu aspecto inicial, quando a capital ainda contava com uma população pequena.

O aumento demográfico acelerado e sem planejamento, que se seguiu logo após a emancipação política da capital, cuidou para que, em tempo recorde, todo e qualquer esforço de revitalização daquela área resultasse em nada. Perto de completar sessenta anos, de todos os pontos dentro do Plano Piloto, a rodoviária é, de longe, o sítio que apresenta hoje o maior desgaste e deterioração.

Para essa região central da capital parecem confluir, de uma só vez, todos os problemas da cidade. Numa fiscalização ocorrida na quinta-feira, representantes da Rede de Promoção da Mobilidade Sustentável e do Transporte Coletivo, chamada Rede Urbanidade, constatou que as condições de infraestrutura e acessibilidade do local continuam reprováveis.

Isso depois da realização de mais uma obra naquele local recentemente e que consumiu milhões de reais dos contribuintes. O grupo criado em novembro de 2019 para a articulação da rede de promoção da mobilidade sustentável constatou que os problemas daquele terminal persistem e vêm se agravando ao longo do tempo.

De acordo com a vistoria, os técnicos observaram que os elevadores e as escadas rolantes continuam quebradas. Os banheiros estão deteriorados, assim como as caixas de incêndio sem mangueiras. Faltam bicicletário e redes de conexão com as ciclovias existentes nas proximidades. Há deficiência de sinalização. A presença de ambulantes em locais de circulação ainda é intensa. O transporte “pirata” continua a operar nas barbas das autoridades. A precariedade das calçadas no entorno da rodoviária continuam visíveis, além de uma série de outros problemas.

Tudo isso sem falar na falta de segurança, não só no terminal, mas em toda a área do entorno. Quando a noite cai, nenhum brasiliense que conhece a região se atreve a circular dentro e fora da rodoviária. Persistem o consumo e tráfico de drogas na área. Também são comuns os assaltos e roubos de transeuntes. Menores abandonados são vistos com frequência naquele local perambulando sem rumo. Esses são alguns dos problemas que cresceram e se firmaram e que parecem sem solução à vista. É o lado feio do pavão .

A frase que foi pronunciada

“Os lugares mais quentes do Inferno são reservados aos omissos”
Dante Alighieri, escritor, poeta e político florentino (1265-1321)

Cabeleira
  • Quebrar o ar sisudo das reuniões no Senado é praxe quando o senador Amin está presente. Nas notinhas abaixo, um pouco de cada dia para que o leitor tenha a oportunidade de ver que há sorrisos por ali. Essa foi do senador Omar Aziz, brincando com o senador Esperidião Amin e Confúcio Moura: “Vocês estão dando prejuízo para os cabeleireiros dos seus estados!” Ao que o senador Esperidião completou: “O Confúncio compensa! Ele é um falso exemplar. Ele ainda trata no cabeleireiro dos acostamentos”...

Toma lá dá cá
  • Só para registrar o ocorrido. Sem nenhuma gota de maldade. Mas que foi engraçado foi: o senador Jean Paul Prates pediu a mudança de ordem no pronunciamento. Trocou com o senador Humberto Costa, que seria o 4º a falar, e o senador Jean Paul, que seria o 13º, coincidentemente o número de seu partido. Presidindo a comissão estava o senador Dário Berger. Ao atender à solicitação do colega na mudança de ordem da fala, ele ponderou que aguardasse, já que havia passado a palavra ao senador Confúcio. Ao que o senador Jean Paul responde: “Eu aguardo, com prazer. Esse é o preço pela troca”.

História de Brasília
Um defensor ferrenho das vantagens do pessoal do Banco foi o dr. Geraldo Carneiro, que, morando em Brasília, conhece bem a situação dos funcionários e fez uma brilhante exposição. (Publicado em 15/12/1961)
 

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