Correio Braziliense
postado em 19/02/2020 04:06
Idosos no espelho
Segundo o Censo de 2010, havia 200 mil pessoas idosas ou quase 8% da população total daquela época, em Brasília. Em 2012, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), esse número era de 326 mil idosos ou 12,8% da população. Nesse contexto, é possível observar que o crescimento da população idosa tem sido mais do que o dobro (9,8%) do restante do país (4,8%).
O Distrito Federal apresenta ainda a maior expectativa de via de todo o país, algo em torno de 77,57 anos de vida, em média, isso lá em 2014. Para 2030, a previsão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é de que se chegue a 80,92 anos para as mulheres e 77,30 para os homens. Dentro dos aspectos sociodemográficos do envelhecimento no DF, preparado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e Defensoria Pública do Distrito Federal (DPDF), “as mulheres representam 57% da população idosa, chegando a 63% no grupo etário de 80 anos ou mais (IBGE, 2011), reforçando o perfil mundial de feminização da velhice, que é uma manifestação do processo de transição de gênero que acompanha o envelhecimento populacional em curso em todo o mundo”.
Estatísticas da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que o número de mulheres supera o de homens em todo o mundo. Num futuro bem próximo, essa será também a realidade do Brasil. No DF, a faixa etária com maior quantidade de idosos (31,9%) se situa entre 60 a 64 anos. Segundo a Codeplan, a escolaridade de 60,4% desses idosos é baixa. Apesar disso, a renda dessa população idosa é considerada alta, com mais de cinco salários mínimos. Esse fato explica, em parte, porque muitos idosos ainda assumem o papel de chefes e provedores de família. “A ideologia da velhice como decadência, doença ou problema, no caso brasileiro, está repleta de contradições e não corresponde ao imenso e crescente espaço ocupado pelas pessoas idosas na família, na economia e em outras instâncias, ainda que isso não fique claro no reconhecimento que a sociedade lhes deve.”
Tanto é assim, que a contribuição da renda da população idosa na composição da renda nacional constituía, em 2003, a expressiva cifra de 30%, tendo os homens aportado 65,2% para o rendimento das famílias e as mulheres, 59,6%, segundo Maria Cecília Minayo, da Escola Nacional de Saúde Pública. Contribui também para essa realidade o fato de que a Previdência Social cobre 77% da população idosa, formada, em sua maioria, por funcionários públicos federais e estaduais, aposentados pelos regimes anteriores que contavam com mais vantagens do que atualmente.
Em todo o Brasil, o número de pessoas idosas vivendo sozinhas era em 2014 de mais de 6,7 milhões, com 40% formado por mulheres. O envelhecimento da população do DF acompanha o fenômeno mundial com a diferença de que nos países desenvolvidos isso não é motivo para grandes preocupações do ponto de vista de assistência, muito mais organizada, racional e eficaz.
No Brasil, envelhecer significa também enfrentar novos desafios e riscos, principalmente devido aos problemas sociais presentes na nossa realidade diária, o que acarreta ainda mais desigualdades em relação a outros grupos etários e a outras realidades sociais, demográficas e epidemiológicas. Chama a atenção dos pesquisadores o fato de que, em todos os níveis de renda e de escolaridade dos idosos, tem se mostrado comum os casos de violência contra esses indivíduos, com o agravante de que esses casos só têm crescido ao longo tempo.
A medida em que a população idosa aumenta, crescem também os casos de violência, numa correlação que tem assustado muito todos aqueles que conhecem de perto o assunto. “Em medida considerável, o tempo do idoso do DF tem sido preenchido por violência, uma violência tão cruel quanto endêmica, que deixa a céu aberto a debilidade de seus amores e os fins de vida mais funestos do que se poderia esperar”, diz o estudo intitulado Mapa da Violência Contra a Pessoa Idosa no DF que reúne pesquisas realizadas ao longo de 10 anos de existência da Central Judicial do Idoso (CJI) , organizado pelo TJDFT, MPDFT e DPDF.
Considerado um projeto pioneiro nessa área, a Central Judicial do Idoso (CJI) tem buscado acolher a pessoa idosa, em toda a sua complexidade, estimulando a participação na defesa de seus interesses. De acordo com os criadores, a CJI trabalha subsidiando as autoridades do sistema judiciário, orientando e prevenindo situações de violência e violação da pessoa idosa e promovendo a análise multidisciplinar das situações de negligência, abandono, exploração ou outros tipos de violência, buscando soluções de consenso para conflitos e encaminhando a demanda aos órgãos competentes.
Como ressaltam os coordenadores, a CJI tem investido no fortalecimento dessa rede de proteção social, por intermédio da interlocução e da integração entre as diversas instituições públicas. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a violência contra a pessoa idosa é caracterizada pelo “uso intencional da força ou do poder real, podendo resultar em lesão, morte ou dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação”.
O Estatuto do Idoso, instituído em 2003 (Lei nº 10741/03), define, no art. 19 parágrafo primeiro, a violência contra o idoso como qualquer ação ou omissão praticada em local público ou privado que lhe cause morte, dano ou sofrimento físico ou psicológico. Segundo os dados do Disque 100 — Módulo Idoso, fornecidos pela Secretaria de Direitos Humanos, o DF, que sempre havia figurado nas primeiras posições pelo número de registros de denúncias, apareceu em 2016 na décima posição com 419,50 casos. Houve , segundo os especialistas, uma redução entre 2015 e 2016. Em 2013, foram 1.188 registros de denúncias apenas no serviço Disque 100, sendo 417, na CJI.
Por região administrativa, Ceilândia aparece com 16,47% dos casos, seguido de Taguatinga com 10,92% e Brasília com 10,35%. É preciso notar que Ceilândia é a cidade com maior número de idosos (166 mil) em relação a população total que era, em 2015/16, de aproximadamente 980 mil habitantes. Estudos comprovam que a violência contra os idosos não está relacionada diretamente a questões econômicas ou à pobreza, mas a múltiplosfatores, como a violência estrutural, a violência da discriminação e a violência da negligência, que negam aos mais pobres o aceso a serviços de saúde e assistência de qualidade. A pobreza na idade avançada tende a aumentar a dependência produzida por condições físicas e psicológicas, como atesta Cecília Minayo.
A violência contra os idosos de baixa renda pode ser do tipo estrutural, interpessoal e institucional. O que explica, em parte, o aumento da violência contra os idosos é, segundo Ladya Maio, em sua obra Desafios da Implementação de Políticas Públicas de Cuidados Intermediários no Brasil, “que a família brasileira não tem mais condições de ser a única protagonista nem de exercer sozinha a tarefa pela complexidade dos cuidados demandados pelos idosos, seja pela falta de condição financeira, seja pela ausência de parentes que possam compartilhar esse mister, pela necessidade de trabalho externo, principalmente em razão da mudança do papel social exercido pelas mulheres, ou de problemas derivados da violência intrafamiliar”. Esse é um problema de grandes proporções se avaliarmos as verdadeiras condições oferecidas pelo Estado às populações idosas e de baixa renda. Diferentemente do que ocorre no Distrito Federal, onde existe uma superestrutura para, pelo menos, avaliar esse problema previamente, o atendimento adequado aos idosos no Brasil ainda tem muito que progredir. A Central Judicial do Idoso é bom caminho.
» História de Brasília
Termina hoje o prazo de apresentação dos reservistas em todo o país. Em Brasília, houve, mais ou menos, o pitoresco. O reservista ao se apresentar receberá um cartão numerado, que dará direito a um sorteio no dia 21 de dezembro, pela Loteria de Goiás. (Publicado em 16/12/1961)
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