Opinião

Artigo: Natureza extrema

Em um país onde o Greenpeace é chamado de %u201Clixo%u201D, está claro que ficaremos impotentes ante os extremos tais como os que ocorrem do outro lado do mundo

Todos nós acompanhamos os incêndios que devastaram a Austrália de setembro de 2019 a janeiro deste ano. As chamas mataram ao menos 24 pessoas, destruíram 1.200 casas e causaram prejuízos econômicos estimados em R$ 12 bilhões — praticamente metade do orçamento do GDF para 2020, descontados os recursos provenientes do Fundo Constitucional. As labaredas que afetaram a costa leste e sul do país fazem parte do ciclo climático australiano, mas este ano assumiram proporções extraordinárias.

Uma reportagem publicada este fim de semana pelo The NewYork Times revela que a tragédia ambiental na Austrália está longe de arrefecer. O fogo foi controlado, mas agora são as enchentes as responsáveis pela destruição de fazendas e residências próximas situadas em regiões lacustres. O fenômeno é denominado pelos cientistas de “extremos compostos”, uma sequência de catástrofes climáticas — seca duradoura, incêndios devastadores, enxurradas torrenciais — que traduzem os sinais eloquentes enviados pela natureza àqueles que insistem em minimizar os efeitos da nossa “civilização” sobre o clima.

Uma questão central que se apresenta na realidade australiana é a expectativa de reconstrução das casas, e a própria sobrevivência dos moradores — nas regiões destruídas. Temerosos da ocorrência de novos desastres, australianos se queixam da suposta inépcia do governo em auxiliá-los ante o inimigo. Enquanto os cientistas reforçam o alerta emitido há anos sobre a ameaça dos extremos climáticos, a Austrália permanece com o desafio de reduzir a alta emissão de gases poluentes, em parte causada pela poderosa indústria de carvão instalada no país.

O drama australiano remete às enchentes que há algumas semanas deixaram em colapso São Paulo e Belo Horizonte. As duas metrópoles brasileiras mostraram-se absolutamente despreparadas para lidar com a natureza no século 21. Em um país onde o Greenpeace é chamado de “lixo”, está claro que ficaremos impotentes ante os extremos tais como os que ocorrem do outro lado do mundo.