Opinião

O vírus do pânico

Correio Braziliense
postado em 11/03/2020 04:06
Não há dúvidas de que a epidemia do novo coronavírus é um problema global. Mesmo sendo uma gripe que mata menos do que a dengue no Brasil, há que se considerar que sua gravidade ganha contornos mais trágicos em países subdesenvolvidos — ou emergentes, como preferem os que defendem eufemismos.

Ao surgir em Wuhan, capital da província chinesa de Hubei, rapidamente se espalhou para mais de 80 países graças à globalização dos nossos dias. Na China, mais de 3 mil pessoas morreram, no entanto, o país asiático controla bem a disseminação do vírus. Em uma semana, levantou um hospital, parou cidades e indústrias, colocou milhões em quarentena.

Na Itália, onde a Covid-19 chegou com tudo, metade da população não sai mais de casa. No Brasil, o coronavírus entrou devagarinho, mas avança a passos largos, e o efeito carnaval nem foi contabilizado. Porém, na República das Bananas, há um sério agravante. Como a maioria dos brasileiros vai se dar ao luxo de fazer quarentena? Como é que o motorista de Uber que levou o primeiro infectado brasileiro do aeroporto para casa vai parar de trabalhar?

Possivelmente, ser motorista de aplicativo é um trabalho alternativo, que garante, muito provavelmente, a única fonte de renda da família. Em um país com 12 milhões de desempregados e onde quase a metade dos trabalhadores são informais, sem qualquer tipo de proteção social, quarentena é luxo. O brasileiro vai ficar de quarentena e seus filhos vão comer o quê?

Mais do que derreter bolsas de valores mundo afora e provocar uma histeria mundial, o coronavírus veio para descortinar a fragilidade de países como o Brasil, onde não há garantia de nada, onde sarampo e dengue matam mais do que qualquer epidemia global. Mesmo que o país tenha um sistema público de saúde, que assegura atendimento a quem nada tem, as condições são tão precárias que, no máximo, pode ajudar a disseminar o vírus ainda mais rápido.

O pânico maior não reside na capacidade do vírus de derrubar à metade a cotação do barril de petróleo. O temor maior está na revelação de que a grande maioria dos brasileiros não têm o direito de adoecer. O país do pibinho e da informalidade não pode se dar ao luxo de parar.





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