Correio Braziliense
postado em 12/03/2020 04:07
“O homem põe e Deus dispõe.” O dito popular, com palavras simples e concretas, chama a atenção para a imprevisibilidade. Especialistas, com dados à mão e na mão, traçam cenários lógicos, coerentes com os fatos. Mas acontecimentos que se encontram fora do radar entram na roda sem aviso-prévio. É o caso do coronavírus.
Em 2019, ao se fazerem previsões para 2020, nenhum economista poderia supor os estragos que poderia causar o mal surgido na segunda potência do planeta. Nem em sonho se imaginaria a Itália com as ruas vazias, a Arábia Saudita impedindo peregrinações a Meca, o papa ausente da janela do Vaticano aos domingos, o cancelamento de grandes eventos culturais e esportivos.
Tampouco se conceberia a hipótese de desaceleração global da economia. Rompimento de cadeias produtivas, quarentenas, incertezas, redução do consumo contribuem para o recuo do Produto Interno Bruto (PIB). Nenhum país é uma ilha. O Brasil, uma das 10 maiores economias do mundo, também sofre as consequências de fatores externos.
É hora de manter a serenidade e avançar. Nunca retroceder. Adeptos de soluções mágicas propõem o abandono da responsabilidade fiscal como solução para a crise que dificulta a melhora do cenário econômico e social. Esquecem-se de que pregam a conhecida receita do caos.
Aviado no final do segundo mandato de Lula e na gestão Dilma, o descompromisso com o dispêndio do dinheiro público cobrou preço alto que nenhum brasileiro quer pagar novamente — disparo da inflação, elevação da taxa de juros, recessão e desemprego que atingiu 13 milhões de pessoas.
A aprovação em 2016 da Lei de Responsabilidade Fiscal impôs controle aos gastos da União, estados, Distrito Federal e municípios. O limite é a capacidade de arrecadação. Em português claro: é proibido ficar no vermelho ou avançar no cheque especial. Nas palavras de Armando Castelar, coordenador de economia aplicada da Fundação Getulio Vargas, “mexer no teto de gastos é suicídio, pois vai introduzir incertezas sobre a situação fiscal”.
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