Correio Braziliense
postado em 13/03/2020 04:15
A Cesar o que é de Cesar, e a Deus o que é de Deus. A Cirne Lima o que é de Cirne Lima, a Eliseu Alves o que é de Eliseu Alves e a Alysson Paolinelli o que é de Alysson Paolinelli quando o tema é a Revolução Verde Tropical. E mais importante de tudo, ao Brasil o que é do Brasil. A verdade: o Brasil é o líder mundial nas tecnologias de produção da agricultura e pecuária tropical que hoje salva os países situados nas regiões equatoriais e tropicais do planeta (quase sempre as mais pobres). Por quê? Simples. Por ter investido na década de 1970 em ciência, tecnologia, inovação e conhecimento. Como o Brasil conseguiu fazer essa revolução verde? Porque deixou de ter a mentalidade de colônia para procurar resolver seus problemas com suas próprias mãos.
Primeiro, colocou as pessoas certas nos lugares certos e deu a elas condições de trabalho. Depois, após o fortalecimento do sistema de pesquisa agropecuária e crédito, estimulou a iniciativa privada a ocupar o espaço empreendedor. Enfim, o Brasil fez uma descoberta fundamental. Entendeu que, diferentemente do setor industrial e de serviços, o trabalho com a terra, ou seja, a produção de alimentos tem características distintas de um lugar para outro.
Fabricar um produto industrial é relativamente simples. Paga-se royalties e faz igual. Ou, por exemplo, importa-se um carro, coloca-se uma equipe de engenheiros especializados, desmonta-o e reproduz cada peça. Mas na agricultura é diferente. Uma coisa é fazer agricultura nos países de clima temperado, em terras férteis, onde a neve elimina a maioria das pragas e ainda irriga o solo no degelo. Outra coisa é fazer agricultura em terras tropicais. O solo precisa ser corrigido, as sementes modificadas, há que desenvolver formas de fixação de nitrogênio no solo, controle biológico de pragas, adaptar condições de plantio e colheita. Não há como copiar. E nenhum país quer dar essas tecnologias de graça. Esse foi o desafio que profissionais sérios e compromissados fizeram a revolução verde no Brasil nos anos 1970.
Vale lembrar o norte-americano Norman Borlaug, Prêmio Nobel da Paz de 1970, que deu o grande passo para garantir a paz no mundo: produzir alimentos em quantidade, qualidade e preços compatíveis para matar a fome no planeta. Borlaug não era filósofo, nem líder comunitário ou político, muito menos ativista. Ele era agrônomo. Geneticista e biólogo vegetal que lutou para melhorar a produtividade dos cereais. Ganhou o Nobel por ter feito a chamada Revolução Verde na agricultura dos países de clima temperado. Segundo o Comitê Nobel, em 1970, “Norman Borlaug mais do que qualquer pessoa da sua idade, ajudou a fornecer pão a um mundo com fome”.
É justamente o que o Brasil faz hoje. Depois de 46 anos lutando para fazer seu próprio caminho rumo à produção de alimentos, desponta como o salvador das savanas africanas por ter conseguido domesticar o cerrado e fazer do Centro-Oeste um celeiro de alimento para seu povo e outros países. O próprio Norman Borlaug ao visitar a Embrapa, em 1979, disse com todas as letras: “O Brasil dá uma lição ao mundo ao fazer a Revolução Verde Tropical, transformando as terras do cerrado em polo de produção agropecuária. É a conquista de uma tecnologia tropical. É um exemplo para o mundo”.
Vale lembrar: a Cesar o que é de Cesar e a Revolução Verde Tropical provocada pelas conquistas tecnológicas a quem de direito. Assim nasceu a Revolução Verde Tropical capitaneada pela Embrapa, nascida no papel em 26 de abril de 1973 no governo Médici, com o ex-ministro Cirne Lima, tendo à frente o quarteto Irineu Cabral, Eliseu Alves, Edmundo Gastal e Roberto Meirelles. E reestruturada, renascida e revigorada em 15 de março de 1974, no governo Geisel, quando assumiu o Ministério da Agricultura, o jovem professor e cientista Alysson Paolinelli, então com 38 anos.
Hoje, capitaneado pelo ex-ministro da Agricultura do governo Lula, Roberto Rodrigues, nasce um movimento com mais de seis mil assinaturas para conceder a Alysson Paolinelli o Prêmio Nobel da Paz. A Revolução Verde Tropical dos anos 70 salvou o mundo da fome.
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