Opinião

Visão do Correio: Momento exige responsabilidade

A situação é dramática. Por isso, o bom senso e a responsabilidade devem prevalecer

Correio Braziliense
postado em 15/03/2020 04:15
Guedes anunciou que um pacote de medidas está sendo preparado com o intuito de evitar o colapsoA terrível semana para a economia, com uma destruição impressionante de riqueza, foi marcada por um fato alentador: depois de muito negar a crise trazida pelo novo coronavírus, o governo decidiu agir para minimizar os estragos e evitar que o Brasil mergulhe em uma nova recessão. O ministro Paulo Guedes anunciou que um pacote de medidas está sendo preparado com o intuito de evitar o colapso da produção e do consumo.

Algumas das ações, por sinal, já foram anunciadas, como a antecipação, para abril, do pagamento da metade do 13º salário de aposentados e pensionistas, que injetará R$ 23 bilhões na economia. Mas é preciso muito mais e, sobretudo, rapidez. Já se sabe que, nos países que resolveram radicalizar no combate ao coronavírus — China e Coreia do Sul —, a economia foi sacrificada no sentido de salvar vidas.

Aqui, com certeza, não será diferente. Por isso, é importante que, ao mesmo tempo em que os governos regionais restringem a circulação de pessoas, a União dê contrapartidas para que os segmentos econômicos mais prejudicados não sucumbam. Isso vale, sobretudo, para os setores aéreos, de turismo e cultural. A previsão é de que, sem uma ação coordenada, uma onda de quebradeira de empresas e de desemprego varrerá o país.

A situação é dramática. Por isso, o bom senso e a responsabilidade devem prevalecer. É certo que a arrecadação de impostos cairá, por causa do ritmo mais fraco da atividade. A consequência será o aumento do deficit público, cujo teto para este ano está em R$ 124,1 bilhões. Contudo, diante da emergência que se vê, esse limite fiscal terá que ser superado, mas com a garantia de que, passada a crise, todas as medidas excepcionais serão revertidas para não se repetir o pós-desastre de 2008.

Naquele período, o governo agiu para conter os efeitos do estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos, porém, de olho nas eleições de 2010, pisou no acelerador que fez o rombo fiscal explodir e a dívida pública saltar de 55% para 76% do Produto Interno Bruto (PIB). Pior, contratou uma das mais severas recessões da história, da qual o Brasil ainda se debate para sair por completo.

As projeções para o desempenho da economia neste ano estão cada vez mais desanimadoras. Começaram 2020 apontando para crescimento entre 2,5% e 3% e, agora, situam-se entre 1% e 1,5%, com os mais pessimistas falando avanço entre 0,5% e 0,9%. Evitar o pior cenário é uma obrigação do governo.

Ver o Ministério da Economia e o Palácio do Planalto saírem do processo de negação da crise impulsionada pelo novo coronavírus é alvissareiro. Agora, é agir com responsabilidade para que o maior número possível de vidas sejam salvas e se preserve o grosso da economia. Esse alerta vale, inclusive, para o Congresso, que tem a obrigação de aprovar reformas importantíssimas para o Brasil. Não será uma equação fácil. Mas é possível.


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