Opinião

Artigo: Todo dia é dia de luta

Correio Braziliense
postado em 16/03/2020 06:08
Em março, Mês da Mulher, nós, mulheres, recebemos muitas homenagens, mensagens e até presentes. Mas essa data é, sobretudo, de luta, para chamar a atenção sobre os preconceitos, as violências e as injustiças em uma sociedade ainda majoritariamente machista.

Nós, mulheres, somos 52% da população, mas temos menos oportunidades de trabalho que os homens e, quando conseguimos trabalhar, ganhamos menos nas mesmas funções. Temos 20% menos empregos e quando se trata de cargos de liderança, as mulheres ocupam só 25% deles dentro das empresas. Nos cargos de direção, a discriminação é ainda maior, ocupamos apenas 15% deles.

Na política a presença da mulher é ainda menor. Atualmente, somos a maior bancada feminina do Congresso Nacional da história, mas representamos apenas 15% dos deputados e 8% dos senadores. Dos 27 governadores, temos apenas uma governadora.

É verdade que evoluímos muito, considerando nossas raízes culturais: antes dos anos 1930, a mulher sequer tinha direito a voto. Setores mais lúcidos da sociedade têm cada vez mais abominado essas discriminações, e a luta pela igualdade de direitos e oportunidades tem tido muito mais espaço.

Presidindo a Comissão externa de combate à violência contra e mulher e feminicídio na Câmara dos Deputados, e ouvindo estudiosos, delegados, promotores, juízes, representantes da sociedade civil e vítimas, fico assustada com os casos mais escabrosos de violência. Uma mulher é morta a cada sete horas no nosso país. Uma epidemia que atinge todas as camadas da sociedade, resultado do nosso atraso, do machismo arraigado e da falta de políticas públicas.

Luto contra isso todos os dias. E mesmo sendo deputada, ainda me deparo com situações esdrúxulas, como a de um homem que me abordou, com violência verbal, para protestar contra essa minha luta.

Não há uma única mulher que não tenha uma experiência para relatar. A verdade é que o machismo está tão entranhado no nosso convívio social que algumas vezes sequer o identificamos.

Infelizmente, no Brasil e no mundo, temos assistido a um certo retrocesso civilizatório, uma volta de velhos e ultrapassados preconceitos, e também a uma reação conservadora aos avanços que vínhamos experimentando nas relações sociais e no respeito às diferenças.

Mais do que nunca é hora de reagirmos a isso, buscando incentivar as políticas públicas de discriminação positiva, como o sistema de cotas que privilegiem minorias esmagadas ao longo do tempo, e, sobretudo, gritando por igualdade, carimbando os preconceituosos, e punindo com a exposição pública e com a severidade das leis os que, com palavras, gestos ou qualquer violência se insurgem contra este sentimento de respeito.

É disso que se trata. A palavra tem poder, quando repetida, publicada, disseminada sem medo, como expressão de uma verdade que nasce dentro de nós, e que deve permear a nossa vida, pública ou privada, com o sentimento de quem não se acomoda e tem a coragem de lutar por uma sociedade mais justa.

Neste Mês da Mulher, lembro de cada mãe que luta pela educação de seus filhos. Lembro das oprimidas pela violência ou pelos preconceitos. Lembro das minhas duas filhas, que quero ver habitando um mundo mais justo. Lembro das grandes mulheres que transformaram as suas dores em bandeiras pelo avanço da sociedade, como Maria da Penha.  E reafirmo o meu compromisso de, acima de barreiras políticas ou ideológicas, continuar lutando por esta causa comum.

Também quero parabenizar os homens que se livraram dos ancestrais preconceitos e se colocam ao nosso lado na busca de equidade e respeito. Parabenizo os que sabem respeitar os direitos das mulheres, os que compartilham as tarefas domésticas, entendendo que não é uma ajuda, mas uma responsabilidade dividida, os que se alegram com as vitórias e os êxitos das suas companheiras. Parabenizo os homens que sabem admirar a beleza da mulher sem insultá-la.  Parabenizo os que sabem reconhecer a competência e capacidade, sem criticar ou subestimar, independentemente do gênero ou orientação sexual.

E, finalmente, a todas as mulheres, a minha homenagem e a certeza de que estamos juntas na luta pela equidade, pelo fim dos preconceitos, pelo fim da violência, pelos direitos de todos, por uma sociedade melhor.

*Flávia Arruda é Deputada federal pelo PL/DF

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