Opinião

Artigo: A cultura do cancelamento

Correio Braziliense
postado em 17/03/2020 04:17
A No mundo da internet, principalmente no terreno das redes sociais, é fácil ler que determinada pessoa foi cancelada. A expressão diz respeito à chamada “cultura do cancelamento”, termo que foi considerado o de maior destaque de 2018 e de 2019 pelo Dicionário Macquarie, por causa da disseminação ocorrida nas redes sociais pelo mundo. Não se sabe ao certo a origem dele, mas foi a partir de 2017, durante as denúncias de assédio sexual em Hollywood e do surgimento do movimento #MeToo, que ele começou a aparecer com mais força.

“Embora o movimento tenha decolado em 2017 com a hashtag #MeToo, ele definitivamente manteve seu ímpeto e começou a espalhar suas asas linguísticas para além da hashtag e do nome do movimento, respondendo a uma necessidade óbvia no discurso que cerca essa convulsão social”, explicou, em comunicado, o Dicionário Macquarie.

No dicionário, a palavra cancelar quer dizer “eliminar ou riscar para tornar sem efeito”. É exatamente isso que a cultura do cancelamento da web propõe. Basta que uma pessoa pública ou não — apesar de que os famosos acabam sendo as principais “vítimas” — faça algo errado para que as propostas de “cancelamento” comecem a surgir. No Brasil nomes como do humorista e influencer Carlinhos Maia, do funkeiro MC Gui, da cantora Anitta e do cantor Nego do Borel já figuraram entre os cancelados. Bullying, preconceito, homofobia e transfobia foram os motivos que os levaram ao boicote do público.

Como tudo na vida, a cultura do cancelamento tem bônus e ônus. Como ponto positivo, percebo a indignação das pessoas em relação a situações que antes passavam despercebidas, como casos de preconceito, machismo e racismo, além dos citados acima. No entanto, o ponto negativo desse “movimento” está na “anulação” por completo. Não há uma conversa, não há uma busca por se colocar no lugar do outro.

É claro que há atitudes que são deploráveis e até criminosas. E, para usar outro termo da internet, não é preciso “passar pano” acobertando erros. Mas a decisão de cancelar alguém, muitas vezes, pode ser drástica demais. É como se tivéssemos o poder de eliminar, ao melhor estilo do que ocorre em realities shows — onde isso, de fato, é uma brincadeira, parte de uma dinâmica de jogo — sem direito a resposta ou retratação.



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