Opinião

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Correio Braziliense
postado em 21/03/2020 04:34
 
Governar pelo exemplo

Uma das primeiras e mais fidedignas fontes de informação que se tem notícia foram as janelas das casas, por onde as pessoas espreitavam a movimentação e a vida mundana das ruas. Desse modelo, veio o que costumeiramente se dizia: pelas frestas das janelas olhos e ouvidos atentos estão sempre a vigiar o mundo. Nada escapava desses “repórteres” naturais do passado, que, protegidos pela escuridão, perscrutavam o vaivém de pessoas, mesmo durante a madrugada. Ficaram tão especialistas que, mesmo sem enxergar direito as ruas mal iluminadas, identificavam os personagens apenas pelo som característico do caminhar de cada um. Era uma época em que o vagar lento das horas permitia esse interesse pelas pessoas e pelo que acontecia à volta.

Hoje, o espreitar o mundo se ampliou de tal forma nessa aldeia, que vai além da vizinhança imediata. Nessa vizinhança planetária, as pessoas sequer conhecem umas às outras ou mesmo se cumprimentam, mas ainda não perderam o interesse pelo que acontece a cada uma. É esse o mundo virtual que estamos imersos e que imaginamos vir a conhecer na sua totalidade, que esquadrinhamos agora pelas frestas da grande janela da internet, protegidos por um anonimato que acreditamos seguro.

O que vemos lá fora não são mais pessoas que conhecíamos, mas multidões sem identidade e que chegamos a suspeitar que sequer existam na vida real. Essas lembranças do que acontecia no passado, e parecem acontecer hoje também por outros meios, vem a propósito dos recentes panelaços que voltaram a ocorrer por todo o país e que, agora, em tempos de quarentena, parecem rugir com mais raiva ou amor contra e a favor do governo.

De modo até anacrônico, esse bater de panelas parece nos remeter a um ritual primitivo, de rufar de tambores, isso em plena era da tecnologia. Das mesmas janelas que antes espiavam silenciosas o mover da vida modorrenta nas cidades coloniais, hoje se voltam a protestar contra o atual governo. Se um chefe da nação faz troça do que ocorre a seu redor, faz pelo exemplo com que a população acredite que tudo é fabricado pela mídia. Que se houver uma pesquisa minuciosa e diligente, será descoberto que nenhum paciente faleceu unicamente por causa do coronavírus, mas pela vulnerabilidade da saúde, não importando a idade. Fará com que a população acredite que tudo não passa de uma guerra fria, testando o limite dos países, a queda da Bolsa, do petróleo, dos preços das commodities e, principalmente as reações e as iniciativas de seus líderes. Fará com que seus eleitores duvidem da seriedade da pandemia lembrando o H1N1, que veio e foi na mesma rapidez, atendendo interesses escusos em seu rastro. Ou mesmo que comunistas são mentirosos compulsivos por natureza.

É preciso que o presidente, nestse momento, comece a cuidar da performance de seu governo, não pondo em dúvida os cuidados com sua população.

Se a única forma de desacelerar o vírus é evitar multidão, transporte público, áreas de convívio social, então, estimular essas iniciativas é primordial. A Covid-19 foi considerada pandemia pela Organização Mundial da Saúde não pelo resultado da doença, mesmo porque gente saudável não está no grupo de risco. Até que se descubra a vacina, a Covid-19 é pandemia pela forma rápida com que se espalha. Um espirro fora da dobra do braço, a mão num corrimão, numa maçaneta, numa caneta, o contato com outras pessoas, um prato ou talher mal lavado. Isso, sim, causa a disseminação do vírus e chega aos de saúde frágil, já que é assintomático.

Tudo isso demonstra, de forma inequívoca, que está claro que a ordem pelo excesso é mais indicada que a negligência. Se a culpa é dos chineses, que se use a criatividade para conduzir essa situação, não com piadas, provocações, mas com inteligência e atitude.

Neste período de quarentena, em que os brasileiros podem dispor de mais tempo para observar de casa o que vai para além das janelas, milhões de olhos, ouvidos e panelas nas mãos estão a postos e focados no governo e nas autoridades. Todo o cuidado nessa hora é pouco.

» A frase que foi pronunciada:
“Ao final das contas, quando a gripe sumir, veremos mais falidos do que falecidos.”
Dona Dita, com os seus botões, procurando um shopping, um restaurante ou uma academia aberta.

Urbanidade
» Empresas de ônibus, nesse momento de crise, deveriam ser obrigadas a triplicar a frota sem aumentar o preço. Não é possível recolher os carros e deixar a população engalfinhada nos metrôs. Agora é a hora de abrir mão dos lucros, como todo comerciante está involuntariamente fazendo.

Proatividade
» Desde maio de 2017 que o Senado Federal está se preparado para o teletrabalho. A regulamentação que traz o Ato da Comissão Diretora 8/2017 e o Ato do Primeiro Secretário 2/2017. Pessoal da tecnologia está sempre disponível para atender a demanda. Essa é a razão da tranquilidade dos Senadores para votar fora do Congresso e ter a saúde resguardada.

Vá de retro!
» Caesb surpreende com a conta. Dessa vez nem é o valor. Mas o juízo de valores médicos. Veja no Blog do Ari Cunha. A conta traz a informação. “Tosse por mais de três semanas pode ser tuberculose”.

Verdade
» Depois de sacudir a caixa de marimbondos, o filho do presidente resumiu uma das últimas publicações do médico que divulgou para o mundo o que acontecia na república popular mais falada ultimamente. 
“Uma sociedade para ser saudável não pode ter apenas uma só voz.”

História de Brasília
Os anúncios da vinda do sr. Jânio Quadros são desencontrados, porque os “viúvos” não têm informação, coisa nenhuma. Todos eles estão sacando. O “professor” vai chegar de surpresa, porque não quer testes. (Publicado em 04/01/1962)
 
 

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