Correio Braziliense
postado em 22/03/2020 04:14
Coronavírus
Vamos imaginar que as contas públicas no Brasil estivessem no azul. O governo federal e os estaduais com superavit, caixa elevado e fundos instituídos para ações governamentais voltadas a impedir ou minimizar algum ciclo econômico, ou seja, governos com dinheiro para gastar em caso de uma crise, uma recessão global, ou uma emergência como o coronavírus. A questão seria apenas escolher onde gastar e quais programas implementar. No entanto, a situação do Brasil é o contrário disso do imaginário. Temos uma dívida pública enorme, estratosférica, e como todas as instâncias de governo operam no vermelho, passa-se a ter dois problemas: primeiro, onde encontrar o dinheiro para gastar na crise; e, depois onde gastar, mas gastar com parcimônia e extremo cuidado porque não vai ter para todos. Alguns palpiteiros da área econômica dizem: mas a opção correta não seria a de não gastar nada, em nome do ajuste fiscal? Burrice. Essa opção nunca significou que o governo não deve gastar. E, sim, que deve gastar em saúde, educação e segurança, de modo que leve a uma redistribuição de renda e redução de desigualdades. Ou ainda: cobrar mais impostos dos mais ricos e gastar mais com os mais pobres. O desajuste fiscal brasileiro não decorre essencialmente do excesso de gasto público. Decorre de gasto ruim. Se o governo não gastasse quase 80% da despesa com Previdência e pessoal, já teria sobrado mais dinheiro para a saúde. Dentro do setor público há desigualdade: um funcionário do Judiciário, onde estão os maiores salários do país, se aposenta em condição muito melhor do que, por exemplo, um enfermeiro de posto de saúde. É evidente que a correção desse rumo não se faz de uma hora para outra, muito menos no meio de uma calamidade mundial. Assim, de modo muito simples: o governo, em todos os níveis, tem que caçar centavos para gastar no combate à epidemia e no combate à recessão que se avizinha. Caso contrário, salvo melhor juízo, vamos nos deparar com inúmeros comércios fechando e estima-se um aumento para 25 milhões de desempregados.
» Renato Mendes Prestes,
Águas Claras
» Governos das potências mundiais comparam o desafio do combate ao coronavírus a guerras mundiais. Donald Trump, dos Estados Unidos, e Angela Merkel, da Alemanha, afirmaram que enfrentam o maior embate depois dos dois confrontos armados do século 20. Têm razão. Talvez se possa ir além. Dizer que se trata da Primeira Guerra Mundial. O campo de batalha das duas citadas se concentrou na Europa e algumas da Ásia. O desta vez, nos cinco continentes.
» Marcelo Souza,
Lago Norte
» A pandemia do coronavírus, por mais dramática que seja, impõe a todas as pessoas, independentemente da condição social, econômica ou origem étnica, uma reflexão sobre a finitude da vida e a fragilidade humana. Ricos ou pobres, pretos ou brancos… Não importa. O inimigo invisível trata todos horizontalmente. No Brasil, o que vivemos até agora são pessoas com melhores condições econômicas, vindas do exterior, afetadas pelo vírus. O noticiário mostrou que as pessoas detentoras de grandes fortunas tiveram perdas bilionárias. O coronavírus mostrou o quão o dinheiro não é escudo para um micro-organismo capaz de minar as grandes potências mundiais, detentoras dos mais sofisticados equipamentos bélicos. As fronteiras geopolíticas são ilusão, criadas pela ambição de poder. Para o coronavírus e tantos outros adversários invisíveis detectáveis pelos especialistas, não há poder hierárquico, financeiro ou de patente. Ele invade, destrói e faz de todos um joguete. Eis um bom momento para a humanidade se humanizar e incorporar valores civilizatórios em que a solidariedade deve preponderar, acima de poderes meramente materiais. O planeta é de todos, inclusive dos vírus.
» Giovanna Gouveia,
Águas Claras
» A corrente é mais forte que seu elo mais frágil. A regra vale para a sociedade e as nações. O Brasil, um dos países mais desiguais do mundo, serve de exemplo. Na crise do coronavírus, as medidas impostas pelas autoridades sanitárias podem ser cumpridas por quem tem salário garantido, moradia digna e acesso a água potável. Os moradores de comunidades pobres, elo fraco da corrente, sofrerão mais. Morrerão mais, também.
» Carlos Pente,
Samambaia
Viagem
Estava em Brasília e voltei para a cidade onde moro, no interior da França. Sobre a viagem: foi longa, tensa, empacotada em máscaras e luvas com cobertura de álcool em gel. O voo intercontinental parecia refletir a energia dos passageiros que lotaram o avião porque chacoalhamos o tempo todo nos dois sentidos, vertical e horizontal. Nunca voei tanto tempo sob turbulências tão poderosas, mais uma pequena amostra de Gaia sobre sua grandeza e nossa pequeneza. Passei sem problemas pela imigração. Parece óbvio, pois minha situação aqui é legal, mas em tempos coroados não é: em vários pontos de controle de fronteiras não há mais policiais, pois foram requisitados para outros trabalhos. Como optei em entrar por Paris, pelo maior aeroporto da França, funcionou. Tinha dois guichês abertos. O espaço aéreo deve ser fechado. As mais antigas mitologias às quais temos acesso representam as serpentes como divindades supremas, pois têm a capacidade de sair da própria pele e renascer. Que essa força antiga e ancestral nos acompanhe neste movimento eterno e necessário.
» Adriana Kortlandt,
Cauxac-Cabardès (França)
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.