Correio Braziliense
postado em 22/03/2020 04:14
O presidente da República diz que uma “gripezinha” provocada pelo novo coronavírus não será capaz de derrubá-lo, mas é bom ele se preparar para o mais grave desastre econômico da história do país. Ao que tudo indica, o Brasil caminha para o que os especialistas chamam de depressão econômica. Em menos de uma década, o Produto Interno Bruto (PIB) vai alternar duas severas recessões com pequenos espasmos de expansão, em torno de 1% ao ano. Não por acaso, a renda per capita dos brasileiros está estacionada nos mesmos níveis de 2009.
A pandemia da Covid-19, que faz estragos em todo o mundo, chega em um momento muito delicado para o Brasil. A taxa média de desemprego está acima de 11% — são quase 12 milhões de pessoas sem trabalho — e cerca de 40 milhões de brasileiros tiram o sustento da informalidade. Com a onda de quebradeira de empresas e as demissões em massa projetadas pelos economistas, entre 5 milhões e 8 milhões de trabalhadores deverão engrossar as estatísticas dos que perderam sua fonte de renda.
Num país com aproximadamente 20 milhões de desempregados, o consumo das famílias, que tem sustando o PIB nos últimos três anos, ficará comprometido. Sem essa alavanca, mesmo que consiga virar o jogo em 2021, passado o caos provocado pelo coronavírus, o Brasil ainda patinará. Na melhor das hipóteses, respirará um pouco mais aliviado em 2022, mas isso é ainda mais torcida do que uma possibilidade concreta, pois não há como dimensionar de forma clara o real impacto da Covid-19 na economia.
Ante esse quadro dramático, o governo terá papel fundamental para minimizar a situação. Se o presidente da República continuar menosprezando o impacto da doença que alarma o planeta, o que se estima que será ruim poderá ser ainda pior. Pelos cálculos de bancos e consultorias, apenas entre abril e junho, período que o Ministério da Saúde aponta como auge da contaminação pelo coronavírus, o PIB brasileiro terá queda de 10%. Nem na crise de 2008, quando o mundo ruiu, se viu tamanha contração em período tão curto de tempo.
Talvez por estar impregnado pelo comportamento insensato do presidente, o Ministério da Economia ainda não tomou as medidas na dimensão necessária que o país precisa para enfrentar um inimigo invisível. Até agora, anunciou um pacote que deve injetar R$ 179,6 bilhões no mercado para tentar segurar o consumo e a produção em níveis minimamente aceitáveis. Nos Estados Unidos, as intervenções somam quase R$ 5 trilhões. Todos reconhecem os limites fiscais do Brasil, mas a urgência do momento pede ousadia e responsabilidade, o que parece estar faltando à boa parte do governo.
O tempo, portanto, joga contra todos. Os desafios são enormes. Com mais de uma dezena de mortes pela Covid-19, o colapso à vista no sistema de saúde e a economia indo para o buraco, o governo precisa entender que o enfrentamento ao coronavírus não é um fato político, mas uma ação de Estado. Sem grandeza e união de forças, com certeza, a fatura ostentada pelo Brasil será de envergonhar. A população, sobretudo a parcela mais desfavorecida, não merece tamanha crueldade.
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