Correio Braziliense
postado em 25/03/2020 04:36
Um possível novo mundo
Marco divisor da história da humanidade. Assim muitos analistas têm denominado o momento atual em que, jamais e em tempo algum, a maioria dos habitantes do planeta se viu obrigada a permanecer presa em suas residências. Por qualquer ângulo que se tente esquadrinhar a história das civilizações, nunca houve um período anterior semelhante, quando, minimamente, os homens foram retidos em casa para escapar de um flagelo externo. A estratégia do passado, para sobreviver às crises profundas, era basicamente fugir para longe.
Agora, com o perigo espalhado por todo o canto, a tática é permanecer longe das ruas. A morte, dizem muitos, está lá fora, à espreita. Não só o que parece ser a morte física de muitos, mas o que se anuncia como ser o suspiro final de um modelo de vida que acostumamos seguir sem pensar. Historiadores ousam afirmar que estamos no limiar de uma espécie de anti-revolução, contrária aos princípios trazidos pela Revolução Industrial do século XVIII, quando a produção em massa e a migração dos campos para a cidade, criou uma nova civilização, induzida pelo poder das máquinas.
Em muitos lugares, não são poucos aqueles que têm buscado refúgio, de volta ao campo e à vida simples da labuta com a terra, onde foram plantadas as primeiras sementes de nossa civilização. Por certo, é cedo para confirmar a chegada definitiva de um novo modelo econômico e social. Por certo também, é afirmado que sairemos desse período de retração ao útero, muito melhores moralmente. E por razões simples que sempre marcaram o comportamento humano: as dificuldades, ensinava o filósofo de Mondubim, aprimoram a moral e ética, fazendo dos bons pessoas ainda melhores.
O próprio sentido de grupo e de solidariedade entre as pessoas, surgem exatamente nesses períodos em que nos vemos afastados de nossos semelhantes. Sempre e em todo lugar os monges os ascetas, que buscam aprimorar o espírito, invariavelmente eram aconselhados a se retirar, em isolamento e clausura, afim de buscar no mais profundo de cada um, a fonte de luz e do equilíbrio.
Há muito tem se falado sobre um certo processo de infantilização das sociedades, sobretudo daquelas gerações do pós-guerra, onde muitas facilidades foram postas à mesa de todos. Desacostumados a períodos de escassez e de privamentos, nossa sociedade atual parece ter esquecido que essa é, quer queiramos ou não, uma condição inerente à nossa existência sobre o planeta.
A impermanência de tudo é a única certeza que possuímos. De fato, para as pessoas, o que mais incomoda não é estar exatamente preso, mas em não poder prosseguir em suas rotinas exatas e massificante. Acostumados, pela pressão do modelo que construímos, a colher os frutos de nosso trabalho, longe de casa, perdemos esse contato com o lar, o que para muitos, se tornou um lugar até desconhecido. Até mesmo nosso planeta, tão repetidamente vilipendiado, teremos que encontrar nova maneira de nos relacionar daqui para frente.
» A frase que foi pronunciada:
“O que é familiar não é conhecido simplesmente porque é familiar.”
Hegel (1807), um dos mais influentes filósofos da história
Biológica
» Um leitor furioso compartilha conosco o aviso que recebeu de uma clínica de fisioterapia que está funcionando normalmente. Além da irresponsabilidade, é inacreditável que pessoas ligadas à saúde desobedeçam às regras em momento
de guerra.
Pesos e medidas
» Por falar em desobedecer às regras, a população faz sua parte e o governo deveria fazer a dele. Nos hospitais públicos de São Paulo faltam máscaras, luvas e outros materiais de proteção aos profissionais da saúde. É bom que os governantes se atentem para as próprias obrigações na mesma medida que as ordens.
Em casa
» Exames estão suspensos para pessoas saudáveis. A informação é do Hospital Sírio-Libanês, onde apenas 2% das coletas deram positivo. A infectologista Maura Salaroli de Oliveira, da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Sírio, quer que o hospital esteja pronto quando a demanda crescer, por isso não há necessidade ou indicação do exame para pessoas sem sintomas, o que ressalta a necessidade de ficar em casa, já que o vírus é assintomático.
Voluntariado
» Já com 1.461 seguidores no Instagram, o Brasília Maior que o Codvid-19 uniu voluntários para produzir e adquirir material hospitalar. Médico residente do Hospital Universitário de Brasília, Pedro Henrique Morais está mobilizando as pessoas e doações. Avisa que há recibo para os doadores e a prestação de contas é minuciosa. Tudo transparente. Veja no blog do Ari Cunha.
Em ação
» Empresas de eventos que trabalham para o governo contabilizam os prejuízos e começam a se unir. Cancelamentos dos eventos já geraram, de imediato, uma série de prejuízos econômicos e afetaram milhares de empregos diretos e indiretos.
Na prática
» Algumas medidas solicitadas para esse segmento são a isenção de ISS e ICMS também para os promotores de feiras, não negativação de empresas do setor para o Compras Net, liberação imediata do pagamento pelos governos (estadual e municipal, suas secretarias e autarquias, na condição de credor, dos valores de serviços de eventos promovidos, realizados e patrocínios assumidos com empresas e classe artística que ainda se encontram em pendência (2020, 2019 e anos anteriores),
e por aí vai.
» História de Brasília
Em Brasília, as coisas melhoram: bancos na Praça dos Três Poderes, preparativos para arborização na W-3, o Prof. Lúcio Costa permitiu a iluminação da Avenida das Nações, gente trabalhando, Prefeitura agindo. (Publicado em 04/01/1962)
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.