Opinião

Artigo: Chance de crescimento

Correio Braziliense
postado em 25/03/2020 04:36

A pandemia do novo coronavírus expõe o que existe de mais bonito e mais pútrido no caráter do ser humano. No condomínio onde moro, e creio que em vários outros de Brasília e do mundo, jovens se mobilizam para ajudar idosos em compras de supermercado, padaria e farmácia. A intenção é evitar que os vizinhos acima de 60 anos se exponham ao risco de infecção. Doação de tempo, de respeito e de amor. Sobretudo, solidariedade.

Uma lista com os nomes de voluntários foi afixada nos elevadores. Ao antever tempos difíceis, um banco estatal decidiu suspender por dois meses as dívidas de mutuários com o financiamento imobiliário sem qualquer ônus. Pena que instituições financeiras privadas não seguiram o exemplo. Uma conhecida agência de viagens publicou vídeo no qual afirma que o melhor lugar para se ficar, hoje, é o próprio lar. Um supermercado decidiu abrir mais cedo exclusivamente para os clientes idosos. Ainda que a recomendação seja o isolamento domiciliar estrito para essas pessoas, a medida é gesto de acolhida ao próximo.

Do lado oposto, empresário de uma conhecida rede de fast food afirmou que “5 mil ou 7 mil” morrerão pelo novo coronavírus, mas defendeu a não paralisação da economia. Outro famoso apresentador e publicitário sugeriu que “12 mil mortes para 7 bilhões de pessoas no mundo é pouco para histeria”. O próprio presidente da República se referiu à pandemia de Covid-19 como “gripezinha” e “histeria”. Depois de criticar medidas tomadas pelos governadores, editou medida provisória autorizando empresas a suspenderem contratos trabalhistas e salários por quatro meses. Ante a evidente revolta da sociedade, revogou o texto. Ontem e na segunda-feira, se reuniu com governadores e anunciou repasses financeiros.

A crise também se revela terreno fértil para oportunistas, criminosos e mal intencionados. Nas redes sociais, fake news se espalham como rastilho de pólvora. São “notícias” sobre curas e remédios. Criminosos se travestem de agentes sanitários para suposta desinfecção de casas, com o intuito de cometer roubos.

Assalto mais sutil (perdoem-me pelo termo) é aquele cometido por farmácias de todo o Brasil, que se aproveitam para cobrar valores astronômicos pelo álcool em gel. Ontem, me deparei no Facebook com uma síntese que traduz bem o momento atual: “Não, não estamos todos no mesmo barco; quando muito, estamos todos no mesmo mar, uns em iates e outros agarrados a troncos”.

O mundo não enfrentava um desafio como este havia décadas. A pandemia pode ser uma oportunidade para expressarmos o melhor de nós. Entendermos que a saúde e a vida do próximo dependem de nossas atitudes e do respeito ao distanciamento social. Exercitarmos o altruísmo em relação aos idosos e aos mais vulneráveis ao vírus. Perceber que um inimigo comum e invisível pode unir forças em nossa sociedade e nos fazer coesos em um mesmo objetivo.
 
 

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