Opinião

Sr. Redator

Correio Braziliense
postado em 27/03/2020 04:04



Coronavírus
Muito se escreveu sobre o tsunami provocado pelo vírus corona. Contudo, alguns sentimentos surgem no cenário local e mundial: o medo, a esperança e a solidariedade, entre outros. O medo se revela na hora de fugir de contatos que podem infectar alguém ou membro da família. Por isso, todos guardam religiosamente a quarentena — o confinamento doméstico. Há medo até para ir ao supermercado ou à farmácia; medo de não encontrar o álcool em gel ou a máscara protetora. A solidariedade está presente quando o vizinho empresta álcool ou máscaras protetoras, porque o medo bateu à porta ao lado. A infecção mal chegou ao Brasil, queiram ou não os que apostaram em papéis oferecidos pela Bolsa. A marcha batida da depressão econômica se aproxima com a queda da atividade econômica. Todos vão perder, dada a contingência do não trabalho. Os “adoradores do PIB” serão os grandes atingidos, em todos os quadrantes geográficos do planeta, pois a covid-19 bate à porta. O vírus é o cartógrafo que traça as “rugosidades continentais” e os pavores grupais. Também não adiantará procurar quem é o culpado. As pestes costumam ultrapassar montanhas e oceanos, porque, para o vírus, a Terra encolheu. Resta aos seres humanos ter humildade e acatar as determinações que esse drama está impondo a todos “democraticamente” e buscar proteção de todas as formas possíveis.
Aldo Paviani, Lago Sul


Já soa como dito popular a sentença: “Quem é feliz não fala mal de ninguém, menos do Bolsonaro”. E ele se sente feliz, na crista da onda. “Falem mal, mas falem” é seu lema, fingindo que está zangado, como o zangadinho Fofo da Branca de Neve.
Elizio Nilo Caliman, Lago Norte


Enquanto portas se fecham e ruas se esvaziam para conter o avanço do coronavírus, janelas de todo o mundo abrem-se para fazer contato. Começou na Itália, com pessoas cantando nas sacadas, e crianças pendurando no parapeito desenhos para lembrar: “Tutto andrà bene!” (Tudo ficará bem). Logo, vieram os aplausos aos profissionais de saúde, e iniciativas das mais variadas correram o planeta, casa por casa: de serenatas a aplausos, de acenos solidários a protestos políticos, como se viu no Brasil nos últimos dias. Em tempos de quarentena, a janela virou a nova rua. Estamos tão acostumados à visão de nossas janelas que nem pensávamos no que ela pode nos proporcionar. E quantos de nós nem sequer olhamos através delas nos últimos tempos? Ao descobrir a janela como um meio de comunicação, vemos seu potencial, embora uma janela aberta também não é, necessariamente, uma visão absoluta. Percebemos que podemos fazer muitas coisas com as janelas: nos comunicar com o mundo, resistir, comemorar que estamos vivos ou conversar com os vizinhos. Em tempos de quarentena e distanciamento social, porém, querer amplificar sua voz na janela talvez não possa mais ser considerado um exercício de excentricidade e esquisitice. A janela sempre foi uma espécie de limiar secundário entre os âmbitos público e privado. A porta é limiar por excelência, aquele espaço pelo qual saímos ao mundo, enquanto a janela parece ter sido sempre um espaço de interiorização. Pela janela, mais do que olhar, espiamos o mundo. Ela passou a ser o espaço de exteriorização, como também uma metáfora da esperança coletiva.
Renato Mendes Prestes, Águas Claras


O presidente Jair Bolsonaro não se dá sequer o benefício da dúvida, embora, na verdade, não haja dúvidas sobre a periculosidade do coronavírus (a não ser entre os adeptos da “pós-verdade”, que distorcem deliberadamente a realidade). Também não se dá nem o benefício de pecar pelo excesso. O presidente prefere pecar pela falta. Infelizmente, com isso, nos aproximamos do caos, enquanto Bolsonaro cava sua própria sepultura política.
Ricardo Santoro, Lago Sul


Alguém tem que avisar ao presidente que mortos não movem a economia, exceto das funerárias. Querer que a população volte às ruas é empurrá-la para o cadafalso. Um elevado índice de mortalidade, como vem ocorrendo na Espanha e na Itália, não elevará o pibizinho. A política econômica do superministro é um fracasso. Pode ser duro reconhecer que Paulo Guedes não foi e não é um bom ministro para conduzir a política econômica do país. Não conseguiu, em um ano e três meses de governo, tomar uma decisão que melhorasse as condições do povo brasileiro. Um país com mais de 5 milhões de famintos e 12 milhões de desempregados não tem políticas sociais. O número de brasileiros na informalidade (bico) é mais de três vezes o que estão desocupados. Isso sem contar os desalentados, aqueles que desistiram de procurar uma vaga no mercado formal. Mas o presidente prefere sugerir o suicídio coletivo e criar conflitos com governadores, principalmente com aqueles que sabem se expressar, a agir para tirar o país do atoleiro. É vergonhosa a inércia do governo diante da calamidade provocada pelo coronavírus.
Paulo Henrique Evans, Jardim Botânico



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