Opinião

Artigo: É a ciência!

Correio Braziliense
postado em 27/03/2020 04:04
Testes produzidos na Coreia do SulO pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro, em cadeia nacional de rádio e televisão, serviu como combustível para inflamar ainda mais o embate entre os defensores da livre circulação de pessoas para estimular a economia e os que são favoráveis ao confinamento da população como única forma de evitar o esgarçamento do sistema de saúde por conta do avanço da pandemia de coronavírus. O problema é que são dois temas complexos, que passaram a ser discutidos em redes sociais e grupos de WhatsApp com argumentos simplificados, movidos apenas pela paixão ou convicção política do interlocutor. E posso garantir: não haverá consenso.

O fato é que o combate à Covid-19 tem se mostrado mais que um desafio à saúde pública. É uma questão que envolve, por exemplo, a saúde mental de uma parcela da população. O isolamento social imposto em muitas cidades do país e do mundo provocou uma onda de transferência de reuniões presenciais para virtuais, o que em muitos casos merece um cuidado especial. Veja o grupo Alcoólicos Anônimos. Quem já teve um parente ou um amigo participando das atividades sabe que a presença física é fundamental no processo de recuperação. A interação social constrói, entre diversos pontos positivos, a expectativa de recompensa.

Bolsonaro também provocou uma onda de repúdio entre cientistas. Pesquisadores de universidades federais de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília alertam que as medidas restritivas adotadas em diversos países para evitar a circulação de pessoas, e baseadas em estudos científicos, apresentam resultados concretos. “Acreditem na ciência! Ela pode nos ajudar a reduzir o sofrimento e salvar vidas. Permaneçam em casa”, pedem sete pesquisadores, na nota divulgada.

A ciência está, sim, em campo em todo o mundo atrás de respostas, em tentar entender melhor o novo coronavírus. Há pistas sobre o comportamento dele, mas não uma certeza. Muitas questões permanecem em aberto: Como o vírus se espalha? Como tornar o contágio mais lento? Qual a proporção de assintomáticos? Quais são os bons tratamentos? Como as diferentes medidas de distanciamento social afetam a taxa de transmissão? Qual é o custo dessas medidas? Os testes são confiáveis?

Nada de balbúrdia. Só a ciência poderá dar uma luz sobre os próximos passos. Acreditem.
 
 
 
 
 





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