Correio Braziliense
postado em 28/03/2020 11:00
Com a pandemia da Covid-19 dominando os noticiários, um colega comentou que não há mais violência no país, “nada de feminicídio”. Obviamente, a observação, em tom irônico, foi motivada pelo fato de a imprensa do Brasil e do mundo estar focada na doença, como não poderia deixar de ser, afinal, estamos lidando com uma infecção que acelera de forma exponencial no planeta.
O crime, porém, não para, apesar do coronavírus, como ressaltou o ministro da Justiça, Sérgio Moro. A verdade é que a Covid-19 faz, indiretamente, outros tipos de vítimas: as de violência doméstica. Com o isolamento social determinado pelas autoridades sanitárias, aumenta a convivência familiar e, em geral, os conflitos, potencializando os riscos para crianças, mulheres e idosos.
Cidades como Rio de Janeiro e Curitiba já apresentaram estatísticas mostrando elevação de casos de violência doméstica. Em território fluminense, por exemplo, o número subiu 50%. Na capital paranaense, dos dias 20 a 22 — o primeiro fim de semana de distanciamento social —, ocorreram 217 casos, contra 189 verificados de 13 a 15 de março.
Em geral, são mulheres que buscam proteção contra companheiros abusadores. Mas o perigo ronda, principalmente, crianças e adolescentes. Por eles formarem o grupo mais vulnerável da população, não faltam algozes que se acham no direito de agredi-los física e psicologicamente. São pais, mães, avós, tios, irmãos, enfim, os responsáveis justamente por garantir a segurança deles.
Ao contrário das mulheres, porém, que podem recorrer à polícia e à Justiça, meninos e meninas, via de regra, não têm como buscar ajuda sozinhos. Dependem de denúncias para serem socorridos.
A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, usou o Twitter para pedir um esforço conjunto, especialmente nesta crise, pela proteção dos vulneráveis. “Preciso que todos vocês compartilhem o máximo possível o Ligue 180 (para violações contra mulheres) e o Disque 100 (no caso de agressões a crianças, idosos etc). Neste período em que teremos mais pessoas em casa, há um risco maior. Me ajudem”, escreveu.
As estatísticas do Disque 100 mostram que o maior número de violações contra crianças e adolescentes ocorre na própria casa das vítimas. Foram 22.304 registros de janeiro a junho de 2019, de acordo com os dados mais recentes. Só para se ter uma ideia, em segundo lugar, aparece a casa do suspeito como local dos abusos, com 8.846 casos, no mesmo período.
Entre essas violações estão os abusos sexuais, que também tendem a aumentar durante a quarentena. Nesta semana, o titular da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Maurício Cunha, fez um apelo: “Infelizmente, a maior parte dos abusos sexuais de crianças e adolescentes de nosso país acontece no seio da família. Portanto, é o momento de termos um zelo especial por nossas crianças e adolescentes”.
Cada um pode fazer a sua parte no combate à covardia contra os indefesos. Denunciar abusos dentro de casa ou aqueles de que tenha conhecimento. O Disque 100 garante o anonimato do denunciante. Neste período de confinamento, podemos libertar meninos e meninas do sofrimento.
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