Quando estava no quinto ano, minha professora nos mandava ler histórias para descobrir a moral que elas continham. Desafio o eventual leitor a fazer o mesmo. Tirar a moral das histórias (verdadeiras) que narro a seguir. Bom exercício para fazer em tempos de confinamento (afinal, ninguém quer pegar o tal do “resfriadinho”).
1.Winston Churchill era ranzinza, obeso, fumava charutos e tomava whisky. Não era exemplo de atleta, como alguns chefes de Estado gostam de se apresentar. Também pela idade (66 anos) poderia ser considerado do grupo de risco quando foi chamado para chefiar o governo inglês em 1940. Na ocasião, Hitler estava conquistando quase toda a Europa e tinha planos para dividir a população do continente por supostas raças, inventadas por ele e por pseudocientistas colocados a serviço do nazismo. Ao contrário dos eslavos (que considerava de raça inferior) e de judeus e negros (que considerava pertencentes a sub-raças), os ingleses poderiam até ter um espaço privilegiado na Europa unificada, desde que aceitassem a supremacia alemã e do partido nacional socialista (nazista). Ao tomar o poder, Churchill deixou claro que a Inglaterra defenderia de modo intransigente a democracia e que ele, como líder do país, não poderia prometer nada além de sangue, suor e lágrimas para o povo. Os ingleses aceitaram o sacrifício e se defenderam quando os aviões alemães destruíam a cidade de Londres, matando muitos cidadãos. Aos poucos conseguiu o apoio americano e foi um dos grandes vencedores da Segunda Guerra Mundial, junto com os russos. Sem ceder. Sem mentir. Sem prometer o que não poderia entregar.
2.A Idade Média na Europa Ocidental caracterizou-se pela crescente força da Igreja. Na ausência de um poder político dominante, como o dos romanos, na Antiguidade, e com pequenos proprietários de feudos distribuídos por toda parte, a Igreja de Roma desempenhava o papel de mediadora de conflitos e de ditadora de normas espirituais e de comportamento. A Igreja coroava reis, reconhecia propriedades e determinava o que era verdade e o que não era.
Arrogando-se como a única interlocutora entre Deus e os homens, tinha o monopólio do saber. Quando uma mulher do povo se destacava por conhecer os efeitos benignos e malignos de ervas, era olhada com desconfiança. Afinal, ela não pertencia à Igreja e estava ameaçando o monopólio de saber da instituição. Era avisada que deveria parar de receitar chás para isso e aquilo. Se insistisse na atividade, era considerada bruxa e, muitas vezes, queimada viva, por supostamente ter parte com o demônio.
3.Embora o comércio fosse incipiente na Idade Média, ele era necessário. Os judeus desempenhavam boa parte das atividades, e muitas cidades da Europa Ocidental preservam, até hoje, o antigo quarteirão dos judeus. Durante várias epidemias que grassaram nesse período, verificou-se que o número de judeus mortos era relativamente menor do que o dos cristãos.
Ao notar o fenômeno, parte da população investiu contra os quarteirões judaicos de várias cidades, matando boa parte dos habitantes. Afinal, se eles sobreviviam sem a ajuda de Deus (já que não eram cristãos), só poderia ser por obra do... acertaram, o demônio, mais uma vez. Só depois, muito depois, é que se verificou que o fenômeno era resultado de um hábito religioso dos judeus, o de lavar as mãos várias vezes ao dia, principalmente antes das refeições, ou quando se tocava em algum cadáver...
4.Ao chegar ao Brasil, os portugueses notaram que os nativos eram morenos, bonitos e andavam nus. Sua atitude com relação aos índios foi dicotômica. Oficialmente escandalizaram-se com seus costumes, mesmo porque não tinham disciplina de trabalho, não se envergonhavam de sua nudez, nem de sua sexualidade e, pior de tudo, não acreditavam em Deus (naquele dos conquistadores, é claro). Na prática, contudo,
achavam ótimo ter relações sexuais com mulheres nativas que não se sentiam travadas por preconceitos.
Não foram raros os casos dos brancos que se “amancebaram” com nativas e acabaram adotando seus costumes e práticas culturais. Despidos daquelas roupas todas que poderiam fazer sentido na Europa, mas não em um país tropical, sentiram-se mais livres para conviver com a natureza, com uma sociedade aberta, onde o indivíduo não tinha a vida pré-determinada a partir do nascimento. Como agradecimento, os brancos trouxeram doenças que mataram a maior parte dos índios brasileiros.
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