Opinião

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Correio Braziliense
postado em 01/04/2020 04:35
Pelas lentes do confinamento

É quando a situação aperta que passamos a enxergar a realidade e as pessoas tal como elas são. Há uma grande diferença entre a faculdade de ver e a de enxergar. Vemos apenas o que o teatro da vida nos apresenta, de forma quase mecânica, sem nos apercebermos do que se passa na coxia. Por milhares de vezes cruzamos a mesma rua, dia após dia e não nos damos conta de muitos detalhes que compõem essa rua e que faz dela um lugar especial e mesmo familiar. Andamos tão absortos com a velocidade do mundo, que às vezes não reconhecemos nem nós mesmos.

Uma experiência que pode facilmente comprovar esse absenteísmo de nós mesmos pode ser conferido quando somos filmados, em segredo, por exemplo, com a câmera de um celular, cuidando de tarefas simples de nosso cotidiano. Ao sermos apresentados a essas imagens, não raro nos surpreendemos com o que dizemos e como nos portamos. Essa visão externa de nós mesmos parece bem mais real do que aquilo que acreditamos ser de fato. É por isso que nós apenas nos vemos, com os olhos de todo o dia. Às vezes complacentes, às vezes severo.

Já a capacidade de enxergar vai muito além e em muitos casos pode se transformar em premonição. Passamos a contemplar muito além. Por isso mesmo os místicos costumam afirmar que, como seres humanos, normalmente não estamos despertos.

Quando por algum motivo, no caso uma crise de saúde pública, que obrigou a uma mudança radical no nosso dia a dia, apartando-nos dos amigos de nossa rotina, somos empurrados a substituir a faculdade de ver, pela possibilidade de enxergar. Somos capazes de passar pela rua, que tantas vezes cruzamos ao longo de nossa existência, e por um milagre, quase não a reconhecemos. Quantos detalhes nunca vistos, quantas cores e cheiros jamais notados. Deus, repetia o filósofo de Mondubim, mora nos detalhes.

Com a capacidade de enxergar a realidade à nossa volta, induzida pelo pavor da pandemia, passamos a presenciar, no íntimo, um mundo que, de fato, não conhecíamos ou que imaginávamos familiar. Não é por outra razão que somente quando a situação aperta é que passamos a enxergar a realidade e as pessoas tal como elas são. Não apenas os outros, mas a nós mesmos. Fora do cotidiano modorrento, quando normalmente agimos feito máquinas, o mundo vibra de forma frenética e até perturbadora. A sensação nesse momento de apreensão é que as imagens que normalmente iam direto dos olhos para cérebro, agora passam antes pelo coração, onde são processadas de outra forma, chegando à cabeça repletas de sentimento e emoções.

Vemos agora o mundo e as pessoas tal como elas sempre foram: frágeis e sem muita certeza quanto ao futuro.




A frase que foi pronunciada

“Deus ri de quem faz planos”
Provérbio lídiche


Paciente
» O médico Raul Cutait está na Unidade de Terapia Intensiva do hospital Sírio-Libanês para tratamento da Covid-19.Segundo o boletim, o estado é estável. Os médicos David Uip e Carlos Carvalho estão acompanhando o colega.


Alívio
» Pelas orientações do GDF, encontra-se suspensa prova de vida por 30 dias, conforme Portaria nº 13 de 16 de março de 2020, do Iprev-DF, a contar de 17/03/2020. Provavelmente esse período será estendido, já que se trata de idosos, pessoas mais frágeis a enfrentar filas e contatos em bancos.


SOLução
» Em um vídeo, o médico José de Castro Coimbra defende que as pessoas tomem sol no horário certo durante o confinamento. Ele lembrou que grande parte do mérito para a cura da tuberculose foi do Sol. A tuberculose pode ser assintomática, causada pelo bacilo de Koch e afeta principalmente os pulmões, mas pode atingir outros órgãos ou sistemas.


Esperança
» Segundo o Ministério da Saúde, por ano são notificados aproximadamente 70 mil casos novos e ocorrem cerca de 4,5 mil mortes em decorrência da tuberculose. Há experimentos iniciados por profissionais da saúde na Austrália, em Melbourne, com a vacina usada para prevenir a tuberculose. A intenção é saber se tem eficácia no combate ao coronavirus.


Boa surpresa
» Uma pessoa da família de Rosane Garcia, nossa colega do Correio, precisou chamar o SAMU em uma emergência. Rapidez, cordialidade, profissionalismo do pessoal que deu o primeiro atendimento. Encaminhada para o Hospital de Base, o tratamento na instituição deu continuidade ao bom atendimento. O mínimo de burocracia para a entrada da paciente, cuidados e exames detalhados.




História de Brasília
E o mais interessante está acontecendo: a Câmara negou aprovação ao projeto que concede 500 milhões para a aquisição do prédio da Vale do Rio Doce, mas mesmo assim, aquela Companhia (que é de particulares também) está financiando a mudança do Ministério, não se sabe com que dinheiro. (Publicado em 04/01/1962)




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