Correio Braziliense
postado em 02/04/2020 04:04
Falar sobre a fome é diferente de sentir fome. Os discursos têm um quê de romantismo e também de distanciamento. Pressupõem uma relação vertical. As salas com carpete e ar condicionado dificultam a empatia com famílias que não têm o que comer. Palavras são incapazes de calar o clamor de estômagos vazios.
Embora o país esteja vivendo uma pandemia cuja imposição de isolamento social é indiscutível, o programa emergencial de atendimento a famílias de baixa renda tarda a chegar aos destinatários. Legislativo e Judiciário colaboram na gestão da crise. São 38 milhões de brasileiros que fazem jus ao pagamento de R$ 600 durante três meses.
Mães arrimo de família receberão o dobro. Beneficiários do Bolsa Família podem migrar para o novo benefício se lhes for conveniente. No total, os dispêndios devem alcançar de R$ 60 bilhões a R$ 80 bilhões, segundo o ministro Paulo Guedes. Assim, o programa foi tecnicamente planejado. Falta o passo seguinte – sair do papel e chegar aos necessitados.
Há que considerar também os prestadores informais de serviços (sem carteira assinada) e os trabalhadores por conta própria. Somados, atingem 46,8 milhões de pessoas – o correspondente a uma Argentina faminta.
Saiba Mais
A burocracia paquidérmica precisa agir na execução das propostas como agiria em tempos de guerra. Não só. A máquina pública tem de se socorrer de instituições que atuam em comunidades e conhecem a população que lá vive. De mãos dadas e asas nos pés, urge fazer chegar a tempo o auxílio que salva vidas, previne enfermidades e evita convulsões sociais. Emergência rima com urgência.
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