Correio Braziliense
postado em 04/04/2020 04:04
Há um mês, minha vida virou de ponta-cabeça. O meu turbilhão pessoal começou apenas alguns dias antes do de milhões de brasileiros. No início de março, recebi o diagnóstico de um câncer de mama. Tive — e ainda tenho — momentos de medo e desespero, mas também de fé e esperança. Chorei — e aindo choro —, mas sorrio e celebro a cada nova boa notícia.
Nesse período, que hoje parece uma eternidade, esperei por resultados mais detalhados da biópsia; fiz baterias de exames para descartar outros possíveis tumores e mapeamento para saber se havia alguma anomalia genética; eu me preparei para a remoção cirúrgica do tumor. Entrei e saí da sala de operação. Esperei por mais resultados de exames... e ainda aguardo.
Minha família e meus amigos, mesmo distantes fisicamente, nunca estiveram tão perto. Peguei cada oração, cada boa vibração e cada pensamento positivo mandados e me fortaleci. Do meu lado, o meu marido, Joaquim, virou meu porto seguro. Costumo dizer que não sou eu quem está em tratamento, mas nós.
Todas as vezes em que ameaço fraquejar, Joaquim e meus filhos, Daniel e Helena, me enchem de beijos e abraço coletivos — um privilégio nestes tempos de isolamento social. Entrei em trabalho remoto em meados de março. Logo depois, foi a vez de Joaquim e as crianças se juntarem a mim na quarentena. Desde então, somos só quatro, isolados, mas, paradoxalmente, tão perto de todos.
Hoje, de licença médica, muitas vezes tentei me distanciar do noticiário, mas minha curiosidade jornalística não me deixa ficar quieta. Fico angustiada em ver meus colegas e amigos se desdobrando — e se arriscando — para levar notícia de qualidade para a população, e eu sem poder ajudar. Ao mesmo tempo, me revolto com a postura de algumas autoridades do país que desabonam esse esforço hercúleo. Pior: põem em risco vidas ao menosprezar o isolamento social – e cada vida merece nosso esforço de salvação.
Assim como eu, milhares de pessoas estão mais vulneráveis. Muitas, inclusive, em situação muito mais delicada do que a minha. É e por nós que peço: fique em casa.
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