Opinião

Como proteger as MPMEs do coronavírus?

''Os setores produtivos mais afetados, os quais, portanto, devemos protegê-los ao máximo, serão micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), que representam mais de 99% do tecido empresarial da América Latina e geram cerca de 30% do PIB''

Correio Braziliense
postado em 07/04/2020 04:35
Embora grande parte da humanidade permaneça isolada para impedir a expansão da Covid-19, os governos da América Latina têm sobre a mesa uma série de medidas econômicas destinadas a aliviar o impacto inevitável que esse vírus causará nas economias da região.
 
Vale lembrar que as quarentenas, muito necessárias para conter as pandemias, paralisam cerca de 50% das atividades econômicas. São observadas paralisações totais ou parciais de fábricas; cortes na prestação de serviços e cadeias de suprimentos; contração de consumo; redução drástica de viagens de negócios e turismo, além do fechamento de serviços recreativos, faculdades e universidades.
 
Os setores produtivos mais afetados, os quais, portanto, devemos protegê-los ao máximo, serão micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), que representam mais de 99% do tecido empresarial da América Latina e geram cerca de 30% do PIB.
 
Uma rápida revisão do que aconteceu na China pode ilustrar como a crise afetará as pequenas e médias empresas (PMEs) na região. As PMEs na China também constituem aproximadamente 99% das empresas e geram 80% dos empregos. Pesquisa realizada em fevereiro por pesquisadores da Universidade de Tsinghua, com uma amostra de 995 pequenos e médios empreendimentos, mostra números preocupantes: 30% reduziram sua renda em mais da metade; 28% relataram queda entre 20% e 50%; um terço informou que eles poderiam permanecer abertos por apenas um mês com seu fluxo de caixa atual; e menos de 10% podem permanecer abertos por mais de seis meses. Entre as causas da pressão financeira, mencionam o pagamento de salários e previdência social em 63%, seguido pelo pagamento de aluguéis e créditos, com 14% cada.
 
Os resultados da experiência chinesa ajudam a delinear um conjunto de medidas para combater o impacto econômico do vírus na região. A natureza das PMEs na América Latina é fundamentalmente orientada para o mercado interno e seu desempenho tem sido tradicionalmente vinculado às condições macroeconômicas. Isso significa que, em tempos de recessão como a atual, as empresas menores tendem a desaparecer com mais frequência.
 
Diante dessa realidade, são necessárias medidas macroeconômicas para garantir a continuidade da cadeia de pagamentos. Em relação ao fluxo de créditos, as empresas menores devem ter liquidez imediata para superar a pressão das obrigações salariais, enquanto as grandes empresas preferem isenção de impostos.
 
No setor de serviços às empresas, essencial nas cadeias de valor, o crédito deve ser ativado a médio e longo prazo. O setor de serviços domésticos deve ser revitalizado muito rapidamente à medida que a demanda se recuperar, de modo que a necessidade de apoio deve ser relativamente limitada, com alívio e adiamento de pagamentos, e somente em alguns casos com subsídios diretos.
 
Na América Latina, os países adotaram medidas para evitar uma queda econômica sem precedentes. No campo financeiro, por exemplo, alguns reforçaram ou expandiram seus sistemas de garantia para facilitar o crédito às empresas; tornaram os requisitos de reservas bancárias mais flexíveis para aumentar a liquidez; estabeleceram regras temporárias para permitir que os bancos reestruturem empréstimos ou estendam prazos e moratórias sobre pagamentos parcelados, entre outros. Alguns países estabeleceram linhas de crédito diretamente para capital de giro das PMEs e criaram fundos para apoiar as operações do setor financeiro junto às empresas.
 
No entanto, nem todas as medidas são articuladas para atender de maneira diferenciada aos diferentes segmentos de negócios e suas necessidades particulares. Os governos da região estão se saindo bem com algumas respostas rápidas à contenção da pandemia, mas precisam estabelecer estratégias de saída agora, com instrumentos para recuperar a atividade produtiva, uma vez que se consiga achatar a curva de contágio.
 

Saiba Mais

Novos recursos financeiros serão necessários, não para garantir liquidez temporária, mas para reativar setores produtivos inteiros. Nesse sentido, as organizações multilaterais terão papel importante: apoio financeiro e definição de estratégias. Por exemplo, o CAF já alocou uma linha de US$ 2,5 bilhões para mitigar os efeitos adversos durante a crise, bem como apoio específico aos bancos de desenvolvimento.
 
Em meio a imensas dificuldades, preservar a coordenação e a cooperação, tanto dentro dos países quanto entre os países, fará a diferença na fase de recuperação.
 
* Diretor de Análises e Avaliação Técnica do Setor Privado do Banco de Desenvolvimento da Amércia Latina (CAF) 

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