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Correio Braziliense
postado em 07/04/2020 04:35
Um mundo à parte

Uma outra grande lição que poderá ficar gravada na memória dos brasileiros com o término da quarentena e que pode levar até a uma futura modificação nas relações entre a população e os Poderes constituídos da República, é quanto à pouca ou quase nenhuma disposição dessas instituições em, prontamente, socorrer e solidarizar-se, de forma prática, com a sociedade nesse momento de enorme aflição geral.
 
De forma prática, entende-se essa solidariedade como sendo a diminuição geral dos altos salários e dos indecentes penduricalhos, que somados aos proventos, já altos para os padrões do país, elevam os valores, recebidos por uma casta de marajás do serviço público, acintosamente dezenas de vezes acima do salário mínimo. Com ou sem pandemia, o fato é que a tolerância dos contribuintes com esses desníveis injustos e até afrontosos de proventos chegou ao limite da tolerância, do bom senso, da ética e do que seria justo, mesmo para um país injusto e campeão mundial absoluto em desigualdade social.
 
Essa situação, vergonhosa perante o mundo civilizado, ganha mais nonsense quando se verifica que mesmo diante de uma economia de guerra, em que estamos todos metidos, o que se observa, sempre que crises surgem, são as costumeiras receitas que acabam mirando na saída fácil do desemprego, da diminuição de salários para quem já pouco ganha e outras medidas que, ao fim ao cabo, não só não resolvem a origem do problema, como criam outros de iguais ou maiores efeitos.
 
Mesmo as medidas emergenciais adotadas pelo Executivo, em cima do laço e por pressão, mais uma vez sairão caras aos contribuintes, já que serão eles que vão ser chamados para cobrir os rombos da dívida pública que se avoluma com a mesma rapidez com que o vírus se espalha. Passada a crise, num futuro incerto, a conta virá na forma de mais um arrocho, seja no sistema tributário, seja na forma de achatamento de salários. O que o público em geral está assistindo é a tomada de um conjunto de medidas , principalmente pelo Executivo, que visam amainar os primeiros efeitos ou onda da paralisação da economia.
 
Espanta que mesmo em meio ao que se denominou economia de guerra, não surjam lideranças, tanto do Legislativo, quanto do Judiciário se colocando, de fato, ao lado dos brasileiros, quer abrindo mão de parte dos altos salários, quer sugerindo cortar na própria carne os gastos astronômicos e despropositados com mordomias de todo o tipo, como passagens aéreas em primeira classe para ministros e suas esposas, quer na compra de acepipes refinados como lagostas e vinhos, entre outras merendas e comilanças pantagruélicas. O mesmo se sucede no Legislativo, incapaz de abrir mão dos bilhões de reais dos fundos partidários e eleitorais, numa afronta, sem precedente contra os cidadãos que lutam para sobreviver e ainda assim são obrigados a manter esses descalabros que envergonham os homens de bem.
 
Para um país, que parece hipnotizado com esses disparates e que talvez seja o mais surreal do planeta, bastaria , como recomenda uma criança nas redes sociais, indexar toda a economia com base no valor atual do salário mínimo, a começar por todos os salários, que seriam nivelados por esse valor, ao menos enquanto perdurar a crise e seus efeitos, o que facilmente se estenderia por todo o ano de 2020. À primeira vista, parece uma solução fácil demais e até óbvia. Mas apenas os gênios são capazes de enxergar o óbvio.
 
 » A frase que foi pronunciada:
 
“Coloque a lealdade e a confiança acima de qualquer coisa; não te alies aos moralmente inferiores; não receies corrigir teus erros.”
Confúcio, filósofo chinês 
 
Sem fundamento
» Veja no blog do Ari Cunha a devassa das motosserras na 315 Norte. Ninguém entendeu.

União
» O leite em pó especial Enfagrou quase dobrou de preço no Sams Club. É preciso ter uma rede de denúncias alimentada pelos consumidores capitaneada pelo Procon, registrando o abuso nos preços. Não é possível que faturem até na crise.

Governo
» No blog do Ari Cunha o vídeo do ministro Paulo Guedes com as estratégias para enfrentar a crise instalada com a chegada do coronavírus. Os brasileiros precisam compreender, agora, como será a logística dessa ação.
 
Ação
» Ainda sobre o coronavírus, uma iniciativa que tem dado certo em outros países é o rastreamento dos casos de pessoas hospitalizadas. Em um mapa é apontado onde essa pessoa mora e onde costumava frequentar. Assim, as regiões são advertidas a manter os cuidados, por estarem mais vulneráveis.

De boa
» No Paranoá e no Piscinão do Lago Norte, o coronavírus é completamente ignorado. Nos mercados, farmácias e padarias, não sendo obrigatória a proteção dos funcionários, os proprietários ignoram a segurança sanitária, no Piscinão a festa aos domingos é a mesma de sempre. 
 
» História de Brasília
Quanto ao caso particular de Brasília, lembramos o recomeço das obras das superquadras 304 e 104, e alojamento para funcionários e engenheiros que não desrespeitem o plano de Brasília, como a construção de alvenaria, que continuam de pé, desafinada a própria Prefeitura. (Publicado em 04/01/1962) 
 

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