Opinião

Opinião: Ovo da serpente

''Terrível, a mera comprovação de uma tese econômica pode ser paga com vidas humanas. Estão tentando nos imobilizar neste instante tão dramático. A pandemia da Covid-19 atingiu Brasília de maneira cruel''

Correio Braziliense
postado em 08/04/2020 04:13
''Terrível, a mera comprovação de uma tese econômica pode ser paga com vidas humanas. Estão tentando nos imobilizar neste instante tão dramático. A pandemia da Covid-19 atingiu Brasília de maneira cruel''Há doenças que deixam os pacientes entre a vida e a morte, mas a foice sinistra da Covid-19 prostra as vítimas entre a morte e a morte. A morte dos humanos fechou o mês de março de 2020 com 720 mil infectados no mundo e perto de 34 mil mortos. A outra, morte do desespero, desemprego, prejuízo e, sobretudo, da injustiça à classe empresarial, veio com o comércio fechado pela insensibilidade fria de uma medida provisória enviada ao Congresso.

Felizmente, a Câmara dos Deputados e o Senado, casas do povo, ainda são esperança para nós, para que não tenhamos que prejudicar, no país e particularmente em Brasília, o socorro aos empresários em crise. As falências chegam pela paralisação do comércio, que, em cascata, atingem a produção industrial e a venda dos produtos aos consumidores. Desordem na economia ao excluir do sistema de assistência social a participação dos empresários.

A medida provisória que corta pela metade os recursos do Sesc, Senac, Sesi, Senai e tantos outros serviços sociais que a iniciativa privada presta é injusta e ilegal. Afirma que a ação é só por três meses, mas traz embutido o ovo da serpente. Há muito essa MP era dita como morte anunciada.

Terrível, a mera comprovação de uma tese econômica pode ser paga com vidas humanas. Estão tentando nos imobilizar neste instante tão dramático. A pandemia da Covid-19 atingiu Brasília de maneira cruel. Até o final de 2020, haverá a falência econômica de R$ 1,2 bilhão nos cofres do governo. Brasília vive calamidade pública. O novo coronavírus provocou prejuízo de R$ 500 milhões, e 20 mil demissões no comércio. A morte gera perda sem reposição. É pedaço arrancado de nós. Dor sem palavras.

O fim do sonho de um empreendimento é ferida incurável. É golpe de muitas vítimas. O empresário morto deixa viúva e dezenas de filhos com carteira assinada cujo destino está marcado. Assim, como no resto do Brasil, está Brasília: vazia de empregos e amedrontada.

Não há termômetro melhor para sentir a febre de uma infecção no setor de serviços que o comportamento das linhas aéreas. No país, os voos nacionais caíram 75% em março, os internacionais diminuíram 95%, e as reservas de hospedagem até junho mergulharam 90%. A área do turismo é quem sente os primeiros efeitos, mas em Brasília, cidade de serviços, e nas demais, eles só serão percebidos depois.

A ação destruidora da Covid-19 no campo da economia gerou uma reação quase igual e contrária. O governo anunciou medidas de crédito às empresas aéreas e empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no volume de R$ 35 bilhões. No Distrito Federal, tivemos o pulso, a sensibilidade e a urgência do comando de um governador. Ibaneis Rocha determinou ao Banco de Brasília, no qual o  GDF é o maior acionista, que corresse em socorro da aflição dos empresários.

O Banco de Brasília (BRB) anunciou a abertura de crédito de R$ 1 bilhão para os empresários que tiveram prejuízos após o caos da Covid-19 no Distrito Federal. De acordo com o banco, o empréstimo seria adquirido por meio do BRB Progiro — Capital de Giro. Para conseguir o benefício, as empresas precisam ser associadas à Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio), Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra) ou à Câmara de Dirigentes Lojistas do Distrito Federal (CDL). O BRB forneceu juros de 0,80% a.m., com seis meses de carência e 36 meses para pagar.

A presença da Fecomércio marca a diferença. Significa a participação direta da comunidade de Brasília na luta pela sobrevivência do comércio de bens, serviços e turismo. Ao todo, são 28 sindicatos que representam a maioria dos ofícios que servem à população.

Saiba Mais

Na crise da Covid-19, a Fecomércio passou a polarizar inúmeras ações comunitárias. Por meio do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), foram selecionados cursos e conteúdos on-line gratuitos para aprimorar o conhecimento durante a quarentena; distribuição de marmitas a R$ 5 pelo Serviço Social do Comércio (Sesc); pesquisas de opinião; mesa redonda com autoridades; e informação, muita informação, sobre como se proteger da pandemia e comunicados oficiais por sua Sala Virtual de Situação.

Entre nós, existem pontes de solidariedade. Essa experiência amarga trouxe um recado: a solidariedade humana também se aprende no sacrifício.



* Presidente do Sistema Fecomércio-DF (Fecormércio, Sesc, Senac e Instituto Fecomércio) 


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