Correio Braziliense
postado em 12/04/2020 04:22
Há um medo que bate aqui no peito, desajustando o ritmo do coração. Mais do que isso, há uma incerteza fenomenal sobre o futuro próximo, que nos faz perguntar: quantos dias ou meses mais terei de viver em isolamento ou distanciamento social? Há muitas perguntas sem resposta e há, ainda por parte de muitos, uma negação do momento vivido, afrontando evidências e dados científicos, para simplesmente não ter que ceder, não ter de olhar para o outro, não ter de abrir mão de convicções ou da vida que levava, como se ela própria não fosse uma grande ilusão.
Como disse a psicóloga Larissa Polejack, da Universidade de Brasília, em entrevista ao CB.Poder, parceria entre o Correio e a TV Brasília, convivem agora os dois tipos de pessoas: os que não compreendem o que está acontecendo e deixam de se cuidar e os que estão muito assustados com a situação. Os dois grupos, arrisco dizer, temem o isolamento em igual proporção. Ficar só, ainda que acompanhado, pode ser um martírio. (Preciso abrir um parêntesis aqui: tem o grupo do presidente Jair Bolsonaro, que tem suas razões meramente políticas para ignorar o óbvio. Mas deixemos essa explicação para os cientistas políticos e os psiquiatras. Torço para que virem objeto de estudo.)
O mundo, aquele que a gente olha sem ver na maior parte do tempo, é um conjunto de paisagens tentadoras e de oportunidades valiosas. Não explorar in loco tudo isso parece ser uma perda de tempo enorme. Cantar parabéns da varanda, assistir a tudo e a todos pelas multitelas, ouvir vozes, dançar sozinho, chorar no escuro, ter saudade de abraçar apertado... Tudo isso nos dá a sensação de vida pela metade. Mas não é. Esta é a vida que temos hoje. Podemos usufruí-la, testando novas formas de se relacionar, ou podemos surtar com o confinamento.
Podemos dar nome aos sentimentos novos que experimentamos. Podemos tentar compreendê-los dentro de uma nova perspectiva. Podemos também tentar ajudar as pessoas que de fato estão sendo muito prejudicadas com a pandemia e que vivem a angústia de perder o emprego, o negócio, o sustento. A psicóloga Larissa explicou: “A gente vive em uma sociedade que valoriza pouco o autoconhecimento. O ter e o fazer estão sofrendo um pouco por causa das restrições. Agora, o ‘ser’ está sendo chamado de volta”.
Hoje é Domingo de Páscoa, um dia para ressignificar essa realidade. Dia de renascer para o presente, tal como ele é. Chame o “ser” de volta e se isole sem medo. Fique em casa com presença, arrume os armários, ouça música, se conecte com Deus, Jesus Cristo e consigo próprio. Ressuscite a esperança dentro de você. Não ignore o apelo de ficar em casa. Faça por você e pelos outros.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.