Opinião

Visão do Correio: Alerta que vem do Equador

''Em Guaiaquil, cidade mais rica do país, famílias enrolam o corpo dos mortos em lençóis e o jogam na calçada''

Correio Braziliense
postado em 14/04/2020 04:05
Nas culturas conhecidas, as diferenças são muitas. É natural que assim seja. A cultura é a cara da nação. O Brasil só é Brasil porque tem determinadas características singulares. O mesmo ocorre com Argentina, França, China ou Estados Unidos. Apesar das particularidades, todas têm um denominador comum — dar um destino ao cadáver.

Alguns o enterram. Outros o cremam. Há os que o depositam em gavetas construídas em cemitérios. Também há os que o entregam a cães especialmente criados para a cerimônia fúnebre. Ou os que o acomodam em árvores distantes para servir de alimento a abutres. São rituais ditados pela crença do povo.

O Equador não foge à regra. Mas as mortes causadas pelo coronavírus ultrapassaram o limite da capacidade dos serviços funerários. Em Guaiaquil, cidade mais rica do país, famílias enrolam o corpo dos mortos em lençóis e o jogam na calçada. Algumas, sem lançar mão do recurso extremo, mantêm os cadáveres em casa. Só num dia, o governo recolheu quase 800.

Saiba Mais

Teme-se que situação semelhante ocorra no Brasil. Até agora, a maior parte das vidas ceifadas pela Covid-19 pertence às classes alta e média. As favelas registram poucos casos. Mas, sem condições de obedecer à orientação de respeitar o distanciamento social e de lavar as mãos com água e sabão várias vezes ao dia, justifica-se o temor de ocorrer tragédia similar ao do país vizinho se o coronavírus avançar por lá.

O Ministério da Saúde tem alertado para o risco. No Equador, o mal fugiu do controle porque o governo negligenciou a crise. Enquanto negociava com o Congresso as reformas econômicas, necessárias mas adiáveis diante da pandemia, o contágio comunitário cresceu exponencialmente. Resultado: sem pessoal e equipamento suficiente, a rede de saúde entrou em colapso. O serviço funerário também. É exemplo a ser observado por autoridades brasileiras que desqualificam o poder do coronavírus. 

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