Opinião

Opinião: Tributo à vida

''Não se trata de contrair uma doença, adquirir suposta imunidade e tudo bem. O que está em jogo aqui é justamente a oportunidade de não precisarmos trocar os abraços e as gargalhadas pelo deslizar das mais sobre o caixão e o choro sufocado de saudade''

Correio Braziliense
postado em 15/04/2020 04:14
O valor de um abraço. De um almoço farto de comida e de amor em família. De um beijo com a bênção do pai e da mãe. De uma conversa feliz com os avós, regada a aroma de café e de pão de queijo. De um sorriso com conselhos despretensiosos de um amigo. O valor de um passeio em meio à natureza; da comunhão com o divino, como quer que o conceba. Da liberdade de conhecer novos lugares e pessoas interessantes. Das ínfimas e mais simples coisas. De caminhar com o filho pelo parque e perceber nele o verdadeiro tesouro da existência. O último mês tem sido duro, complicado, estranho, diferente de tudo o que já vimos. Porém, necessário.

É preciso fazer um sacrifício. Em nome da saúde e da vida. Não é uma gripezinha. Não se trata de uma chuva, na qual 70% dos brasileiros vão se molhar. Não se trata de contrair uma doença, adquirir suposta imunidade e tudo bem. O que está em jogo aqui é justamente a oportunidade de não precisarmos trocar os abraços e as gargalhadas pelo deslizar das mais sobre o caixão e o choro sufocado de saudade. Se infectologistas do mundo inteiro e a Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam as diretrizes para quebrar a cadeia de propagação do coronavírus, por que adotar a confrontação às custas de ideologia cega e nada razoável?

No momento em que escrevo essas poucas linhas, 125.678 pessoas já foram arrancadas de seus familiares e da vida pela Covid-19. Quase 2 milhões estão ou estiveram infectadas pelo novo coronavírus. Como ignorar uma pandemia que destroça lares e sonhos? Como adotar como verdade absoluta argumentos vazios de lideranças que insistem em percorrer a contramão da ciência? O novo coronavírus nos ensina a termos responsabilidade conosco e a cuidar do próximo. Principalmente daqueles que amamos. Talvez por isso a ausência momentânea seja tão dolorosa. Melhor que a eterna. É preciso que façamos nossa parte. Respeitar o isolamento social pode até não evitar contágios no futuro, mas previne a sobrecarga nos hospitais e permite que os pacientes mais graves recebam atendimento de qualidade e prioritário.

Com o confinamento, aprendemos o real valor do abraço e da união familiar. A dimensionar a cumplicidade entre pais e filhos. A perceber que alguns instantes da vida são inestimáveis, ainda que efêmeros. Em breve, retomaremos os almoços em família, beijaremos nossos pais, honraremos nossos avós em presença, compartilharemos de momentos especiais com amigos. Até lá, cuidemos uns dos outros com consciência e responsabilidade. Façamos de nossa casa abrigo sagrado e seguro. Celebremos a saúde para celebrarmos a vida.
 
 
 
 


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