Opinião

Visto, lido e ouvido

Correio Braziliense
postado em 18/04/2020 04:05

A ciência fora do labirinto político

Deixando de lado os motivos, nada nobres, que levaram o presidente Jair Bolsonaro a exonerar o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, indicado político do DEM,  uma vez que a medida é um direito que lhe cabe como chefe do Executivo. A saída, agora, do então titular da pasta, em plena crise de pandemia, emite um sinal muito ruim não só para a população brasileira, mas, principalmente, para o restante do mundo que sofre dos mesmos efeitos da Covid-19.

Não é segredo para ninguém que o Ministério da Saúde se tornou, nesse momento de aflição geral, na principal instituição pública a conduzir e a gerenciar a travessia de todos para fora da pandemia, da maneira mais segura e com o menor de números de mortos possível. Trata-se, portanto, de uma tarefa de guerra. Aos olhos da populção, os números de recentes pesquisas apontam nesse sentido e vinham sendo conduzidos pelo ex-ministro com larga aprovação, tanto na gestão interna quanto no restante do sistema distribuído por todo o país.

Nessa altura dos acontecimentos, o volume de informações acumuladas pelo ex-ministro e sua equipe dificilmente será absorvido pelo novo titular, a tempo de pôr a gigantesca máquina da saúde pública de volta ao campo de combate. Outras lições bem mais importantes e urgentes podem ser tiradas dessa desastrosa experiência e que podem ser de mais valia para todos os brasileiros nos anos vindouros. A primeira delas é que, como bem lembrou o ex-ministro, é necessário e urgente construir um modelo de saúde igualitário que englobe não só um reforço do Sistema Único de Saúde (SUS), como voltar a atenção do Estado para a importância de instituições de pesquisa como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), conferindo-lhes maior autonomia, com mais investimentos, para que, num futuro próximo os centros de ciência possam produzir vacinas com mais presteza e eficiência.

Em seu último discurso frente à pasta, Mandetta lembrou ainda que no Brasil e no restante do mundo, haverá, após o coronavírus, um novo modo de viver bem diferente, em que a ciência forçará as pessoas a pensar fora da caixinha, uma vez que muitas verdades que eram absolutas, até agora, estão virando pó. A questão que se impõe é saber exatamente se o novo ministro que assume, e que foi um dos formuladores do programa de saúde do então candidato Bolsonaro, foi trazido para essa árdua e urgente missão a fim de ajudar os brasileiros a saírem dessa crise, ou, mais especificamente, para salvar o próprio presidente do labirinto criado por ele mesmo em torno de si e dos seus seguidores mais fiéis.



A frase que foi pronunciada:

“A natureza parece quase incapaz de produzir doenças que não sejam curtas. Mas a medicina encarrega-se da arte de prolongá-las”
Proust (1871-1922), escritor francês em A prisioneira



Seu bolso
Talentos para trapacear o povo. Escândalo em nuvem de fumaça pior do que não abrir mão do fundo partidário. Autorizar o Banco Central a comprar papéis podres dos bancos em mercado de balcão sofre mudança. A iniciativa foi transferida do artigo 7º para o artigo 8º da PEC 10 . Leia tudo sobre essa manobra no Blog do Ari Cunha.



Saúde
Um vídeo explicativo aprovado por renomados médicos circula nas redes sociais com uma linguagem acessível com explicações sobre a Covid-19. Assista no Blog do Ari Cunha. Aproveite para conferir também as homenagens de alguns funcionários na saída de Mandetta do Ministério.



Educação
Escolas teimam em cobrar mensalidade integral mesmo dando aula à distância até para crianças de 5 anos, cuja mensalidade, às vezes, é até mais alta do que as de universidades particulares. Aprovado, na Câmara Legislativa, o desconto de 50% nas mensalidades. Acontece que nas escolas onde não houve 50% da carga horária preenchida por atividades, não há possibilidade de pagar por um serviço não prestado.



Aluguéis
Para os autônomos que pagam aluguel, a situação está mais difícil. Não há regras claras quanto à flexibilização dos contratos. Menos um ponto aos consumidores novamente.



Sempre crianças
Essa foi do filho de uma amiga que, na sua inocência lógica, perguntou: “Mamãe, a gente precisa ficar preso em casa para não pegar coronavírus e o ladrão que está preso precisa sair da cadeia para não pegar o coronavirus?” Tem alguma coisa errada.



História de Brasília
Os choques internos no Palácio Planalto, entre funcionários da Presidência da República e do Conselho de Ministros, dão perfeitamente a entender que o gabinete do sr. Tancredo Neves deveria estar no anexo da Câmara dos Deputados, já que o primeiro-ministro é um delegado do Congresso.  (Publicado em 5/1/1962)
 
 
 
 
 
 

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