Opinião

Visto, lido e ouvido

Correio Braziliense
postado em 21/04/2020 04:05
Sessenta anos 

No dia em que a capital de todos os brasileiros comemora seis décadas de sua inauguração, o mais sensato é deixar um pouco de lado os muitos problemas e descaminhos acumulados ao longo desse tempo e que fizeram com que a cidade, que muitos duvidaram que viesse a vingar, como um bebê prematuro que era, seja homenageada pelos poetas que entenderam o gesto simbólico daqueles que assinalaram um lugar e dele tomaram posse. 

Para esses primeiros idealistas, cruzar dois eixos em ângulos retos, como o próprio sinal da cruz, foi o início da epopeia. Graças a essas linhas imaginárias, fundaram, no ermo do Planalto Central, uma capital hipotética, que, por muito tempo, era crível apenas no papel branco, como um poema escrito na forma de desenhos rápidos e rabiscados com versos ligeiros ou hieróglifos de um novo tempo. À semelhança do Livro do Gênesis, no princípio era O verbo. E o verbo era sonhar como os poetas.

No princípio, para Vinícius de Moraes, “era o ermo / eram antigas solidões sem mágoa /o altiplano, o infinito descampado / no princípio era o agreste: o céu azul, a terra vermelho-pungente /e o verde do cerrado / eram antigas solidões banhadas / de mansos rios inocentes / por entre as matas recortadas / não havia ninguém”. 

Os urbanistas a quem a sorte concedeu a ventura de pensar a nova cidade, ergueram nesse sertão histórico o que seria, na visão da escritora Clarice Lispector, “o espanto deles”, um espanto que, em seu entendimento, ficaria inexplicado. Um dos mais conhecidos poetas da cidade, pertencente à geração do mimeógrafo, Nicolas Behr, tal como os índios a quem as terras são apossadas por forasteiros, pediu: “Enterrem meu coração na areia do parquinho da 415 Sul e deixem meu corpo boiando no Paranoá”. 

Mesmo a ausência e saudades do mar, de uma civilização que já foi classificada como a de caranguejos, pelo medo que tinha de adentrar o país para além da Serra do Mar, foi deixada de lado, quando os poetas enxergaram, no céu singular da cidade, uma espécie de mar aéreo, fluídico e etéreo, com todas as características e desenhos das areias marinhas, banhadas pelo Sol poente. 

O céu de Brasília, “traço do arquiteto”, nos versos de Djavan, amainava e servia de inspiração para uma multidão de brasileiros, principalmente aqueles oriundos das grandes metrópoles, onde a arquitetura ciclópica dos arranha céus escondeu o horizonte com edifícios que nada mais são do que gigantes de concreto.Talvez tenha sido essa a própria intenção do urbanista que desejava misturar arquitetura com poesia, criando obras em concreto armado que mais se pareciam com as flores do cerrado pela delicadeza e pela surpresa.



A frase que foi pronunciada

“As qualidades das pessoas que participaram do projeto e da implantação de Brasília se refletem no projeto da capital. É necessário registrar outras pessoas importantes nesse processo, como Ernesto Silva, Joaquim Cardoso, Israel Pinheiro, Bernardo Sayão, que, com muitos outros, colocaram seu talento e trabalho em prol da construção de um futuro que desejavam fecundo.”

Maria Celeste Macedo Dominici, arquiteta que mora em Brasília e concluiu o pós-doutorado na École Polytechnique de l’Université de Tours. 



Véu
» Enquanto o tema Covid-19 fervilha, o Supremo Tribunal Federal pautou a despenalização do aborto para grávidas com o estranho fenômeno, mal explicado, causado por outro vírus, o da Zika. A ADI 5581 está pautada para 24 de abril, sexta-feira. 


Interesses
» A voz da Constituição continua rouca. O direito à vida é uma garantia fundamental prevista no artigo 5º, caput da Constituição Federal Brasileira. Ela garante proteção à vida. Esse direito é inviolável. A Carta Magna não deixa margem à interpretação. Longa vida, vida saudável, vida digna, vida até três meses. Trata do direito à vida e diz que é inviolável.


História
» Tudo começou com uma mentira. Caso Roe versus Wade, em que a mulher disse que foi estuprada e depois confessou que não foi. Mas a tecnologia em 1973 não era capaz de mostrar as imagens de um ser humano em formação. Hoje, a ciência afirma que até dor o feto sente. As cenas são chocantes e, essas sim, merecem uma interpretação científica e jurídica honesta da Suprema Corte do Brasil. Veja vídeos sobre o assunto no Blog do Ari Cunha.


No lixo 
» Em 2017 um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), concluído, apontava 11 estados e o Distrito Federal como os maiores desperdiçadores de verba pública. Juntos jogaram remédios fora em 2014 e 2015, levando ao lixo a cifra de R$ 16 milhões. Os medicamentos de alto custo armazenados pelo SUS estavam com validade vencida ou foram conservados de forma inapropriada. Hoje, Lorena e Maite dependem de uma campanha aberta por Cesar Filho para sobreviverem. Veja a história no Blog do Ari Cunha. 


Parabéns
» Emocionante a homenagem da Escola de Música de Brasília à capital. Com a participação dos professores, interpretaram Suite Brasília, de Renato Vasconcelos. 



História de Brasília

A diferença do Distrito Federal para Goiânia é um estímulo ao comércio da capital de Goiás. Para que possamos recomendar a todos que façam suas compras em Brasília, é preciso, também, que o comércio entenda que está explorando. (Publicado em 05/01/1962)


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