Correio Braziliense
postado em 27/04/2020 04:14
Na coletiva do final da tarde do último dia 22 de abril, o general Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, tomou a palavra para dar lição de moral na imprensa. Desfiou um rosário de clichês que qualquer jornalista, com um mínimo de prática na profissão, se fartou — e se fartará ao longo da carreira — de ouvir. Resumidamente, ele disse que os veículos de comunicação gostam mesmo é de notícia ruim, que é o que “vende”, dá “audiência”, gera “likes”.O general não conhece minimamente a essência do jornalismo. Seu problema é, realmente, o preconceito. À falha de formação, soma-se a adesão incondicional ao que se fala no Palácio do Planalto e no da Alvorada contra a imprensa. Pela longa trajetória, deveria ter entendido algumas coisas: governos lideram a sociedade; a mídia espelha a sociedade em que se insere; e a sinapse humana é mais sensível às sensações incômodas e surpreendentes que às agradáveis e relaxantes.
Feitas essas observações, que são incontestáveis sob o ponto de vista de qualquer estudo sociológico, filosófico, psicológico ou antropológico — creio que o general há de reconhecer isso —, cabem algumas perguntas que o secretário de Governo pode responder, até para que a velhinha lá de Taubaté, com a qual ele se mostrou preocupado, não deduza que o Brasil está à beira do caos. Vamos a elas:
1ª) como as instituições deveriam analisar o discurso do presidente da República, no domingo passado, na caçamba de uma picape, em frente do QG do Exército, numa manifestação que pedia o auto-golpe, o fechamento do STF e a instalação de um dispositivo semelhante ao AI-5? Discurso esse que feriu, em poucos minutos, a Lei de Segurança Nacional (Lei 7.170/83), a Lei dos Crimes de Responsabilidade (Lei 1.079/50) e o Artigo 287 do Código Penal;
2ª) como as instituições deveriam analisar o anúncio do Plano Pró-Brasil, na mesma sessão de descompostura que o general passou na imprensa, mas minutos depois, sem a presença do ministro Paulo Guedes? Afinal, a divulgação de um plano de recuperação pós-pandemia deve contar com a participação, em pessoa, do responsável pela economia;
3ª) como as instituições deveriam analisar a intervenção presidencial no comando da Polícia Federal, com a consequente saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça, sobretudo quando se sabe que nem nos governos do PT houve um dedaço desses?
A imprensa reflete a sociedade em que se insere. Nela, se verá muitas menções elogiosas ao governo na Coreia do Norte, em Cuba, na Venezuela ou na Nicarágua. Não por acaso, general.
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