Correio Braziliense
postado em 30/04/2020 04:04
Mais de 5 mil mortes, 73 mil infectados, centenas de pessoas enterradas em covas coletivas, negação da gravidade da pandemia mundial de coronavírus, pressão de setores da economia e do presidente da República para o fim do isolamento social. O cenário do Brasil não poderia ser mais desolador neste 2020! E agora, José?
Cientistas e pesquisadores trabalham incessantemente para desvendar o novo coronavírus e, assim, descobrir como contê-lo, evitando a morte de milhares. Trabalham com poucos recursos, pois retrocedemos à Idade Média, com ataques à ciência e à educação gratuita e de qualidade, com corte de recursos imprescindíveis para o avanço do conhecimento. E agora, José?
Com o enfraquecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), médicos, enfermeiros e técnicos trabalham no limite em muitos hospitais do país. Não faltam relatos de falta de equipamento para salvar pacientes e, agora, até de equipamentos de proteção individual para garantir a vi da dos profissionais que atuam na linha de frente dessa guerra à Covid-19.
Ao mesmo tempo, agravam-se, dia a dia, as consequências das crises econômica e política, que se arrastavam havia mais de cinco anos. E não há em curso nenhuma política macro para reduzir os danos. Sairemos dessa pandemia com a base da pirâmide social alargada exponencialmente, com aumento dos brasileiros na miséria ou na pobreza.
Isso vai acontecer por uma série de razões. Assistimos ao crescimento do desemprego e ao agravamento desse quadro em função da crise provocada pela pandemia mundial de coronavírus. Os trabalhadores perderam renda. O ataque às leis trabalhistas precarizou as relações de trabalho, com perdas significativas para o chão de fábrica e benesses para os patrões que, em troca, deveriam abrir postos de trabalho.
Óbvio que isso não aconteceu. O que se viu nos últimos anos foi o aumento da informalidade e o fortalecimento do discurso de glamourização do empreendedorismo e da tal meritocracia, conceito do liberal para justificar a exploração dos mais pobres e ainda fazê-los crer que não são bons o suficiente para ter uma casa confortável, um automóvel ou ir à Disney uma vez por ano.
Mas nem todos perderão. A elite do país sairá fortalecida, como tem sido ao longo da história deste país. O abismo social vai se alargar e, com ele, outras mazelas: aumento da violência, a volta de doenças já erradicadas ou com baixos índices de registro, menos acesso à saúde, à educação, à cultura e ao lazer. É lamentável constatar que, enquanto o país enfrenta um dos cenários mais críticos da sua história, há lideranças políticas que preferem culpar a imprensa pelas consequências dos seus atos. Mas isso não muda o fato e nem os isenta de responsabilidades. E agora, José?
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.