Correio Braziliense
postado em 30/04/2020 04:05
“Não existe esforço inútil quando usado para felicidade do povo.” Getúlio Dornelles Vargas, inspirado nessa crença, sonhou com o futuro e criou, em 1945, as instituições de serviços sociais no Brasil, ligadas às grandes confederações patronais. Era o Estado se fortalecendo na união com os trabalhadores. Como consequência, um ano depois, já no governo Dutra, nasceu o Serviço Social do Comércio — Sesc, definido na Carta da Paz Social como proposta que evitaria tensões dos trabalhadores com a iniciativa privada.Foi muito mais do que isso. Demonstrou que promover saúde, esporte e lazer é fórmula para formar cidadãos. Quis o destino, por profecia ou acaso, que o Sesc surgisse durante uma grande epidemia de tuberculose no país. O primeiro batismo foi diminuir os índices de mortalidade da doença. Com operação urgente, instalou um hospital com 600 leitos em Minas Gerais.
Hoje, mais de 50 anos depois, outra epidemia desafia a ação assistencial do Sesc. As cidades em confinamento multiplicam a multidão de necessitados. Empresários que não produzem e um comércio que não vende exigem subtrair custos e somar desemprego. Só quem sofre sabe que nenhuma palavra pode matar a fome ou curar doenças.
A determinação social do Sesc soltou a criatividade e a maneira de ajudar quem precisa. As décadas de experiência em projetos de saúde, bem-estar e alegria foram a solução na tragédia dos que não podem comer. Em um mundo que tem fome, não dividir aquilo que nos sobra é perversa falta de respeito à cidadania. A busca de um caminho criativo inspirou a criação de um projeto com notas musicais. Afinal, sem a música, a vida não tem sentido.
A descoberta de que a música pode ser remédio para a fome fez surgir a primorosa ideia do Festival Fome de Música. O Fome de Música foi anunciado por um pool de produtores e artistas, em 3 de abril, durante a live da dupla sertaneja Jorge & Mateus. Artistas consagrados fazem lives em uma rede social e convidam para a grande festa de solidariedade.
O Fome de Música é uma iniciativa que pretende diminuir a fome no Brasil por meio de uma tecnologia social que une artistas, produtoras, shows, festas, festivais e o público para oferecer alimentos a quem precisa. Cada fã que assistir a um show do seu ídolo fica responsável por alimentar uma pessoa sem comida. As primeiras apresentações reuniram ídolos de peso, desde Jorge & Mateus até a participação especial de Neymar Jr., Gabriel Medina e Bruninho do Vôlei.
No domingo de Páscoa, em 10 horas de show pela internet, os artistas tiveram mais de 830 mil visualizações, que renderam cerca de 300 mil quilos de alimentos doados. Somente o show de Sandy & Junior reuniu cerca de R$ 2 milhões. O site www.fomedemusica.com foi acessado em mais de 20 países e 500 cidades do mundo. A doação mínima é de R$ 5 e equivale a 1kg de alimento e a 5 refeições. O valor máximo de R$ 5 mil será convertido em uma tonelada de alimentos e 5 mil refeições.
Os dirigentes do Sesc e Fecomércio-DF tiveram a felicidade de unir a música à vontade de comer. Todas as doações do Fome de Música são destinadas ao Programa Mesa Brasil Sesc-DF, que repassou, proporcionalmente, para os estados, até agora, R$ 3,8 milhões, equivalentes a 800 mil quilos de alimentos.
O Mesa Brasil é um programa do Sesc — Serviço Social do Comércio, que tem a missão de contribuir para a alimentação e a boa nutrição de indivíduos vulneráveis. Para isso, tem parceria com empresas, entidades sociais e voluntários. No Brasil, a comida é distribuída para mais de 6 mil instituições. Fome e compromisso social vivem em harmônica simbiose. Aquilo que falta para uns depende da consciência dos que pregam sensibilidade e justiça. A fome não é um erro das nações, mas grave omissão da humanidade.
O Mesa Brasil já tem fortes resultados. Enfrenta com coragem o índice de 821,6 milhões de pessoas que têm fome no mundo, dos quais 5,2 milhões moram no Brasil.
Desde o ano passado, ainda sem o Fome de Música, foram distribuídas quase 40 mil toneladas de alimentos, que beneficiaram cerca de 1,5 milhão de brasileiros por mês, em 6,2 mil entidades assistidas em 606 cidades.
Nesse grande banco de solidariedade é que os participantes do Fome de Música depositam os recursos e alimentos recolhidos no festival. O exemplo do Sesc dá lições de vida com a alegria musical. São boas lições de viver. Afinal, como cantava Vinicius de Moraes, “quem de dentro de si não sai vai morrer sem amar ninguém”.
* Presidente do sistema Femocércio DF
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