Correio Braziliense
postado em 02/05/2020 04:14
Em meio à pandemia do novo coronavírus, uma vez por outra, segmentos da sociedade marcam dia e hora para aplaudir os profissionais da saúde que estão na linha de frente do atendimento às vítimas do inimigo invisível. A expressão de gratidão eleva o ânimo, mas não protege médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, maqueiros e outros que têm lidado diariamente com o aumento de pessoas infectadas. O Brasil tem 490.959 médicos em atividade, segundo o Conselho Federal de Medicina.
Em 17 abril, em todo o país, mais de 8 mil profissionais estavam afastados do trabalho, infectados pelo novo coronavírus. Não há dados sobre o total, incluindo médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, maqueiros, sobre quantos voltaram ao trabalho ou quantos sucumbiram pela Covid-19. Os testes para identificar quem foi infectado são insuficientes. Aliás, o Brasil está entre os países com baixos índices de testagem. Sem testes em massa, não há como isolar quem foi afetado e interromper a transmissão do vírus.
Em São Paulo, epicentro da crise, 12 profissionais morreram e 3.366 estão afastados. No Rio de Janeiro, 2.209 foram afastados, 11 médicos e 18 enfermeiros não resistiram ao ataque. No Amazonas, ocorreram 16 mortes entre as equipes de saúde, sendo quatro médicos. Em Brasília, dois enfermeiros também morreram. Nos levantamentos oficiais, os profissionais mortos pela Covid-19 estão incluídos entre os 6.329 óbitos no país e 91.589 infectados, até ontem. Faltaram a eles equipamentos de proteção individual e outros recursos para se protegerem da infecção. No Ceará, onde quatro médicos foram a óbito, as equipes ameaçaram cruzar os braços diante da carência de insumos nas unidades hospitalares. Não estão dispostos a enfrentar o vilão sem escudos de defesa.
A pandemia expôs as fragilidades crônicas do sistema público de saúde. O orçamento do Sistema Único de Saúde (SUS) é, tradicionalmente, subestimado — uma constatação que antecede à pandemia. Nos primeiros sinais da maior crise epidemiológica deste século, o poder público fez uma avaliação equivocada. Hoje, as unidades de saúde, em grande parte do país, estão próximas do colapso. A situação poderá se agravar se não forem adotadas medidas mais eficientes de proteção aos profissionais.
Em vários estados, como Amazonas, Ceará, Rio de Janeiro, São Paulo, os sinais de colapso da rede pública são, a cada dia, mais evidentes. A soma das deficiências estruturais com a exposição dos profissionais da saúde aos riscos da epidemia impõe ao poder público ações mais diretas e eficientes para resguardar a integridade dos trabalhadores da saúde, pois sem eles não há como salvar a vida dos cidadãos. Mais: é preciso cautela no relaxamento da quarentena e reforço na campanha #fiqueemcasa, como pedem os médicos, para que a população brasileira não seja devastada.
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