Correio Braziliense
postado em 06/05/2020 04:05
Em 30 de janeiro de 2020, com o surto mundial da Covid-19, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou estado de emergência na saúde pública, de interesse internacional (Pheic). O diretor, Tedros Adhanom Ghebreyesus, enfatizou que, “juntos, somos poderosos e precisamos de uma OMS que pertença, igualmente, a todos nós”. Entretanto, a OMS impede a participação de Taiwan na organização por motivos políticos, o que prejudica os esforços globais de prevenção de doenças e é ato contrário à visão do próprio Tedros. Assim, Taiwan continua vencendo obstáculos, mesmo diante da pandemia, para contribuir com a sociedade mundial por esforço próprio.
Michael Ryan, diretor executivo do Programa de Emergências em Saúde da OMS, fez declarações a respeito do surto da Covid-19 que divergem da realidade dos fatos: “Temos especialistas de Taiwan envolvidos em todas as nossas consultas, redes clínicas e redes de laboratório; então, eles estão totalmente engajados e cientes de todos os desenvolvimentos”. Relatou, falaciosamente, que a OMS “se engajou com especialistas taiwaneses, durante todo o curso desse evento, em todos os aspectos da cooperação técnica”. Isso nunca ocorreu.
Vale lembrar que não é a primeira vez que a OMS nega a Taiwan acesso a recursos de prevenção e controle de epidemias. Durante o surto de Sars em 2003, dezenas de taiwaneses perderam, tragicamente, a vida porque o país não conseguiu obter dados do sistema global de relatórios sobre os casos, muito menos teve a assistência da organização.
No quadro de pandemias globais da gripe, Taiwan formulou quatro estratégias (vigilância e avaliação, interrupção da transmissão, antivirais e vacinas contra influenza) e cinco linhas de defesa (contenção no exterior, controle de fronteiras, controle de epidemias comunitárias, manutenção das funções do sistema médico e proteção individual e familiar) em resposta à ameaça. Isso se mostrou eficaz no combate ao surto de H1N1, em 2009, quando Taiwan ficou na terceira menor posição na taxa de mortalidade em comparação aos países da OCDE. Restringiu, com sucesso, casos importados durante o surto de H7N9, em 2013, na China, com cinco situações e nenhum indígena. Desde 2016, mais de 25% da população taiwanesa são elegíveis para vacinas contra a gripe graças ao aumento ativo na cobertura de imunização financiada pelo governo.
A OMS declarou 2020 o ano internacional dos profissionais da enfermagem e da obstetrícia, ação que coaduna com a postura de Taiwan na política de investir, ativamente, em recursos humanos relacionados à saúde. O inovador modelo taiwanês de assistência domiciliar de enfermagem e de microempresas sociais aumentou a capacidade dos profissionais enfermeiros no sistema de saúde, majorando o número de especialistas da área e expandindo a cobertura universal de assistência médica, fazendo surgir o programa de Melhoria dos Cuidados de Saúde Materna e Infantil, entre outras iniciativas. Taiwan também está ajudando outros países a fortalecer as funções das instituições médicas e de assistência, e a fornecer educação comunitária em higiene para gestantes e recém-nascidos. Essas e outras ações só confirmam a habilidade técnica e profissional dos taiwaneses nos cuidados com a saúde local e mundial.
Taiwan reestruturou seus sistemas de saúde pública após o surto de Sars, em 2003, fortalecendo a preparação para emergências diante de novas doenças infecciosas e estabelecendo melhores sistemas de prevenção e controle médico e epidêmico. O país está bem posicionado para dar contribuição substancial à saúde pública e à medicina. Vários países estão apoiando a tentativa de participar da OMS com base nas necessidades profissionais.
O surto da Covid-19 é um lembrete para todo o mundo de que a política impediu Taiwan de ter contato e comunicação com a OMS e com especialistas em saúde pública global, o que prejudica, gravemente, a cooperação global em prevenção e controle de epidemias. Somente com a inclusão de Taiwan na OMS (e nos mecanismos de cooperação global para prevenção e controle de epidemias), será possível prevenir e controlar, de maneira completa e eficaz, as epidemias, sem deixar ninguém para trás.
* Representante do Escritório Econômico e Cultural de Taipei no Brasil
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