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Correio Braziliense
postado em 12/05/2020 04:04
Sérgio Sant’Anna

O momento é de tristeza, mas isso não nos impede de celebrar a vida. Ainda mais, a vida em sua expressão criativa. Um dos mais inventivos e ousados escritores brasileiros, Sérgio Sant’Anna (1941-2020) deixa uma obra singular, na qual a violência e a crueldade sempre vieram acompanhadas de reflexões inteligentes e apuradas. O escritor carioca soube contemplar com exímia habilidade vários tipos sociais, fazendo uso da verossimilhança como recurso ficcional e efeito realista impressionantes. Em Notas de Manfredo Rangel, repórter (a respeito de Kramer), de 1973, Sérgio Sant’Anna discorre, entre outros assuntos, sobre os bastidores do poder, destacando a falta de racionalidade que conduz violentamente as ações políticas em países como o Brasil: “Em todos os atos humanos se pode vislumbrar a busca incessante do poder. E mesmo atrás da bondade e fraqueza mais radicais esconde-se uma tentativa de dominação. Uma ânsia de atrair os outros para nossa própria órbita, o nosso imenso e mesquinho universo pessoal. Tudo é, de certo modo, poder: dinheiro, inteligência, sexo, amor. A própria aparência física, quando bela, é uma das formas mais expressivas do poder”. Em O voo da madrugada (2003), Sergio Sant’Anna nos brinda com mais um pensamento desconcertante. Impactada com a notícia de estupro sofrido por uma jovem que acabou também sendo assassinada, Teresa, diante do analista, revela questões profundas e existenciais: “Não consigo entrar num açougue achando tudo natural. Quer dizer, natural até que é, porque a vida é exatamente assim, uns devorando os outros, só que eu tenho consciência disso o tempo todo e as outras pessoas não. Mas qual a diferença entre nós e os canibais? Nenhuma. Só porque a gente come carne de bicho e eles comiam de gente? Mas, pensando bem, os selvagens eram até mais sadios do que nós, porque a vida é assim e eles não ficavam se remoendo o tempo todo. Ou os bárbaros, que iam lá, atacavam as outras aldeias, matavam, estupravam. Foi isso que fizeram com aquela mulher do jornal”. Como uma sinfonia, podemos então notar as variações conseguidas por Sérgio Sant’Anna, cuja voz autoral deu vazão à complexidade humana, traduzida em ricos enredos e surpreendentes narrativas.
Marcos Fabrício Lopes da Silva, Asa Norte


Regina Duarte

A reportagem Polêmica entrevista de Regina Duarte desnuda falta de política para cultura” (10/5) escancara a incapacidade, a frieza e a crueldade da atriz, que deveria comandar a pasta da Cultura. Debochada com a situação dos que, miseravelmente, precisam do auxílio emergencial, dos que foram vítimas dos anos de chumbo, uma das piores páginas da história do Brasil, escritas pelos militares, que torturaram e mataram centenas de brasileiros, e hoje são indiferentes à mortalidade que cresce dia a dia pelo novo coronavírus. Esperar que Regina Duarte, que, hoje, protagoniza o pior papel da sua vida, como serviçal de um governo de insensível às dores da nação, que tivesse alguma proposta para o setor cultural, seria exigir demais. Ela é absolutamente vazia de valores humanitários, mais plena de desumanidade. É lamentável que os brasileiros tenham lhe consagrado tanta fama ao longo de muitos anos, garantindo-lhe condição financeira privilegiada. Hoje, no entanto, quem lhe deu fama e mais de 70 milhões que estão na fila pela esmola governamental são vítimas do seu descaso  e desrezo. Lamentável.
Giovanna Gouveia, Águas Claras


Bolsonaro

Presidente Bolsonaro, saia de Brasília e vá visitar os locais onde essa calamidade que nos aflige está mais devastadora, como Manaus, Fortaleza, São Paulo e outros. Leve a tiracolo, além do ministro da Saúde, outros que conquistaram a admiração do povo brasileiro, como o da Agricultura e o da Infraestrutura, ficando mais do que um dia em cada local, transferindo até, provisoriamente,  a sede do governo para esses locais. Que tal? Teria chance de verificar in loco as desgraças e as necessidades que as pessoas estão passando e necessitando, tomando medidas para minimizar esses sofrimentos. Pouco importa que tenha algum governador ou prefeito que seja seu adversário político, pois V. Exª. tem que ter em mente que foi eleito para proteger todos os brasileiros. Pense nisso.
Paulo Molina Prates, Asa Norte


Atraso

Pensávamos habitar o centro do universo, crendo que tudo girava em torno de nós.  Copérnico deu a dica: “A Terra é apenas um grânulo nas dunas do Cosmos”. Pensávamos ser à imagem e semelhança de Deus, com direito ao domínio de tudo. Darwin deu a dica:  pôs-nos no topo da cadeia alimentar, mas como meros descendentes de animais. Pensávamos ser tudo no trono da sabedoria — animais, sim, mas, racionais. Descarte deu a dica: “Penso, logo existo”, mas pensamos o quê, por quê e para quê? Chega Freud e indica chagas em nosso narcisismo, que fica desnudo. Entretanto, continuamos egocêntricos. Surge, então, outra pergunta: Erramos na tradução ou na interpretação bíblica “subjuguem os peixes do mar, as aves do céu e os animais que se movem sobre a terra?” Vítimas da cruz quanto algozes da espada, a saída dessa encruzilhada tem mão única: reembarcar no século 21. Atrasados em 20 anos, a conta mais cruel desse retardo acaba de chegar, resumida em um código: covid-19. Alguma dúvida?
Ildefonso de Sambaíba, Asa Norte
 

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