Opinião

Visão do Correio: Impõe-se adiar o Enem

''Assim como o país foi apanhado de surpresa pelo novo coronavírus, as redes e os sistemas de ensino viram-se, sem aviso prévio, frente a frente com o desafio de oferecer ensino a distância''

Correio Braziliense
postado em 14/05/2020 04:04
O Enem talvez seja o teste mais esperado pelos estudantes. Ele abre as portas da universidade — fato que ganha relevância no país. Aqui, o ensino médio se assemelha a uma ponte cuja função é unir o nível fundamental ao superior. São poucas as instituições que qualificam o jovem para exercer uma profissão sem que ele curse a faculdade.

Escolas, públicas e privadas, focam, sobretudo, na preparação do aluno para desenvolver as competências exigidas no exame. Ao planejar o ano letivo de 2020, nenhuma levou em conta o surto pandêmico que obrigou os colégios a interromper as atividades presenciais nos primeiros meses do ano. Até agora, ninguém tem certeza de quando será o retorno.

Assim como o país foi apanhado de surpresa pelo novo coronavírus, as redes e os sistemas de ensino viram-se, sem aviso prévio, frente a frente com o desafio de oferecer ensino a distância — sem material pronto, sem professores habilitados, sem os recursos tecnológicos necessários. Na outra ponta, impuseram-se as limitações dos estudantes.

A pandemia escancarou a face cruel da desigualdade brasileira.

Muitos jovens e crianças não dispõem de acesso à internet ou não têm computador em casa. Há famílias cujos filhos vão à escola para comer. Mais do que a busca do conhecimento ou a ascensão social, é a merenda que os atrai aos bancos escolares. Não raro ela é a única refeição ao longo das 24 horas do dia.

Manda o bom senso, pois, repensar a data de aplicação do Enem. Não seria nenhuma jabuticaba. Países que adotam sistemas de acesso às universidades já tomaram a iniciativa. São os casos de Rússia, China, Espanha e Estados Unidos. Parecer técnico do TCU defende o adiamento. No mesmo sentido, entidades como a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União dos Estudantes Secundaristas (Ubes) impetraram mandado de segurança no Superior Tribunal de Justiça (STJ), que rejeitou os recursos.

É hora de o Ministério da Educação sentar-se com representantes das universidades, do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e órgãos ligados ao tema para alinharem os calendários em relação ao Enem. Não se pode lutar contra os fatos. Tomar as medidas impostas pela realidade é atestado de coerência. O contrário é insanidade.
 
 
 
 
 



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