Correio Braziliense
postado em 15/05/2020 04:14
Quem tem olhos que veja
Quem já caminhou pelas ruas desertas em qualquer cidade interiorana pode perceber que, na aparente quietude desses lugares, uma infinidade de olhos e ouvidos está atentamente postada por detrás de portas e janelas, espreitando qualquer movimento e identificando cada um deles apenas pela impressão digital produzida pelo som característico de cada passo.
O mesmo ocorre hoje com o mundo em quarentena. O tempo de sobra e a monotonia fez dos humanos seres mais antenados com o que se passa ao lado. A pandemia fez de todos nós espectadores interessados nos movimentos em volta, em outras ruas, em outros países. Buscamos, com isso, mais do que satisfazer nossa curiosidade. Estamos atrás de exemplos e de soluções mais harmônicas para nossos problemas comuns.
Nessa preocupação com o que ocorre para além de nossas janelas, o mundo passou a observar mais atentamente outras nações, avaliando com lupa de cristal como cada um dos países enfrenta a virose. Que medidas cada governo adota. Que atitudes cada sociedade tem frente à quarentena. Somos observados com mais acuracidade em tempos de enfrentamento da pandemia. Erros e acertos vistos por lupas mundiais.
Enquanto isso, buscamos uma receita que talvez nos sirva, um exemplo que nos estimule. Nesse olhar espichado para o que se passa ao lado, vamos observando também não só os casos edificantes que engrandecem o ser humano como uma raça dotada de grande poder de adaptabilidade e resiliência, capaz de mitigar até as mais duras adversidades. O mundo está vendo e aprendendo com os exemplos em volta.
É possível afirmar, com segurança, que, apesar das ruas desertas do mundo atual, a humanidade está posicionada por detrás das janelas da internet, de olhos e ouvidos postos nas ruas vazias do planeta, observando, como raposas, como cada um se move. Vistos dessa posição, uma pergunta se faz necessária: com qual figura estaria sendo apresentado o Brasil perante o mundo nesse momento de agonia?
Se formos responder essa questão pela qual a maioria dos jornais do mundo vem estampando em suas manchetes, é possível afirmar que o Brasil e, principalmente, o atual governo vêm enfrentando a corrupção, os laboratórios, os cleptocratas de administradores anteriores e toda a forma de pensamento que nunca lutou pelo país.
Está claro que, quando alguém entra em um “esquemão” até agora impenetrável, sofre o que o governo enfrenta. Devolveu dinheiro para o partido, usou uma ninharia durante a campanha. Tem sido traumatizante para quem está acostumado a se encostar no foro privilegiado para dilapidar o país. Não se trata de modelo a ser seguido ou não. Trata-se de alguém bem-intencionado, que conseguiu convencer a população brasileira de que é possível governar sem roubar.
A população não é mais ingênua. Mas poucos reagiram com inteligência a essa mudança. A maioria insiste em mentir, denegrir, roubar, matar e destruir, fazendo as honras do que há de pior na humanidade. Acabou. A população brasileira quer outro país. Menos estádios e mais hospitais, menos cadeias e mais escolas, menos privilégios e mais trabalho.
Aqui, na América Latina, as manchetes dos jornais informam que nossos hermanos, em destino histórico e aflições cotidianas, passaram a nos ver como ameaças e um risco muito grande não apenas pelo grande número de casos de covid-19, mas, sobretudo, pelo modo como o atual governo vem lidando com a pandemia. Até agora, o novo coronavírus ocupou o primeiro plano nas análises. Outras pandemias virão. As que vieram antes dessa receberam um mundo paciente, resiliente, inerte, deixando a possibilidade de crime contra a humanidade de lado.
Nunca tivemos hospitais que pudessem arcar nem com os doentes diários espalhados por estados e municípios, que até lanche da merenda escolar têm a coragem de roubar. Um país que obedeceu ao padrão Fifa para usar bilhões na construção de estádios não foi capaz de pensar na Saúde e na Educação em primeiro lugar. Até chute no traseiro ouviu que levaria sem reagir.
Notícias correm na América do Sul que nossos vizinhos vêm se apressando em fechar suas fronteiras, com medo do gigante adoecido e descontrolado. Que assim seja. Será bom para todos. Pelo menos, por enquanto. Por outro lado, fala-se no exterior que o Brasil vem perdendo o status de democracia liberal e se enfeixando cada vez mais numa rota autoritária, cujos desfechos são ainda incertos e sombrios.
Não há rota autoritária. Há dentes de todos os lados dos que perderam a boquinha. A precariedade de nosso sistema público de saúde está exposta ao mundo. Legado que parece apagado de algumas memórias. Herança maldita, nunca comentada pelos que criticam. Essa, sim, vem de longa data e não é vista por quem não a quer ver.
A frase que foi pronunciada
“A nação que pretende assegurar a estabilidade e provar o direito que lhe assiste de existir, deve assentar numa base religiosa. ”
Bismark, estadista da Alemanha do século XIX
História de Brasília
A estrada do aeroporto é uma estrada parque. Não há, por conseguinte, razão para que painéis enfeiam e transformem a paisagem. Antes que novas placas surjam, uma limpeza geral é necessária. (Publicado em 06/01/1962)
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.