Correio Braziliense
postado em 17/05/2020 08:00
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Com os Estados Unidos (EUA) e a Europa seriamente contagiados e enfraquecidos economicamente, mas com a epidemia ainda crescendo, nossos olhos se voltam para a China. Mas um mundo doente (precisaria estar são) não pode esperar muito da China, o motor industrial do mundo, a enfrentar grandes desafios. O New York Times, a partir de seu chefe de redação na China, o senhor Bradsher, nos dá uma visão do que lá se passa, entre pesaroso e alguma esperança: “O surto de coronavírus pôs fim ao extraordinário ciclo de quase meio século de crescimento da China — e acende um alerta sobre o enorme desafio que se coloca diante dos líderes mundiais que tentarão reiniciar a economia global”.
Agora, o país está tentado reiniciar sua vasta economia de US$ 14trilhões, um esforço que poderia dar uma injeção de ânimo necessária ao resto do mundo. Sem a China, as cadeias de produção não funcionam a contento em termos globais, assim como sem os EUA e o Brasil, alimentos faltam para o mundo inteiro.
A disseminação do coronavírus pelos EUA e pela Europa congelando as economias locais, suscitou previsões de que a produção mundial poderá encolher muito mais este ano do que durante a crise financeira de 2008. Essa interrupção global, por outro lado, prejudicará os esforços chineses para voltar aos trilhos, criando um difícil quebra-cabeças econômico para os principais líderes de Pequim. A China está retirando gradualmente muitas de suas restrições ao trabalho e às viagens nas últimas semanas. Mas empresários de todo o país dizem que os tempos continuam difíceis. As famílias dizem que perderam renda. “O ano está difícil — muitos perderam o emprego, muitos outros não conseguem encontrar trabalho”, disse Liu Xia, vendedor de frutas de uma vila nos arredores de Pequim: “Quem ainda tem trabalho, quem ainda tem algum negócio é muito afetado”. Mas o país está em pé.
Na China, a série histórica de crescimento foi alimentada pela criação de uma extensa e moderna rede de rodovias e ferrovias, pelo forte empreendedorismo de seu povo, por sua força de trabalho qualificada e por um governo que se dispôs a deixar de lado as preocupações ambientais e trabalhistas em nome do eterno crescimento da produção econômica. Mas esses fatores não foram páreos para a covid-19, que, depois de surgir na cidade de Wuhan no final de dezembro, paralisou o enorme mecanismo da indústria do país, por duas semanas.
Até o momento, seus líderes evitaram a formulação de um enorme pacote de gastos, como fizeram governantes nos EUA e na Europa. Sua economia tornou-se grande e complexa demais para ser reiniciada com facilidade, como em 2008, quando o governo apresentou um plano para gastar mais de meio trilhão de dólares. A queda na renda obrigou as famílias a reduzirem seus gastos. Han Xiaojuan, de 35 anos, tem uma pequena loja que vende jaquetas e chinelos. Ele disse que hoje em dia as pessoas só estão comprando artigos de primeira necessidade. É o pior momento de todos os tempos.
A produção industrial caiu 1,1% em março em relação ao mesmo período do ano passado, e as vendas no varejo despencaram 15,8%. O investimento em ativos fixos caiu 16,1% nos três primeiros meses do ano, ante o ano anterior. O próximo baque para a economia da China pode vir do enfraquecimento da demanda global para suas exportações. Empresários dizem que o fechamento quase completo das fronteiras da China, para limitar uma potencial segunda onda de infecções, prejudicou os pedidos de exportação.
Com o motor do mundo refreado, o resto perderá comércio e o desemprego será generalizado. O mundo inteiro estocou óleo. A Rússia, em posição melhor, vende algum petróleo à China e muito gás em seus oleodutos para a Europa, cuja energia é dependente de Moscou, além de ser a segunda exportadora de armas de última geração. Sairá melhor na fita. Fechou as fronteiras. O Brasil tem uma saída: o agronegócio, apertar os cintos, ficar em casa e prosseguir com pouca infecção. Infelizmente, não temos governo, tomada pela paranoia e voluntarismo de um tenente que respira ódio, gerando nefasta divisão no país, a partir da Presidência da República.
*Sacha Calmon é advogado
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