Opinião

Primeiro dia da educação em Brasília

''Abaixo, trechos da aula inaugural da educação em Brasília, abrindo os cursos ginasial, colegial, clássico, científico e normal da nova capital''

Correio Braziliense
postado em 19/05/2020 04:05
''Abaixo, trechos da aula inaugural da educação em Brasília, abrindo os cursos ginasial, colegial, clássico, científico e normal da nova capital''Em 19 de maio de 1960, há 60 anos, JK encontrava os jovens de Brasília na Caseb. A escola estava em festa para a aula inaugural. Alunos e professores formavam duas alas até a entrada. Havia muita expectativa e excitação. Nisso, o portão se abre e surge o presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira. Uma eletricidade poderosa toma conta do ambiente. Era possível sentir a emoção no ar. A entrada é acompanhada de gritos, vivas, assobios, palmas — manifestação espontânea demonstrando apreço, respeito e admiração pelo presidente. O entusiasmo da juventude dourada dos anos 1960 contagiava. Ao lado dos meus colegas, senti o amor pela nova capital tomar conta de todos. Uma paixão intensa incendiava os jovens. Tínhamos consciência de participar da construção de um novo país. Vivíamos momento mágico da História do Brasil.

O presidente, acompanhado pelo ministro da Educação e Cultura, Clóvis Salgado, e pelo prefeito de Brasília, Israel Pinheiro, entra no prédio para proferir a aula inaugural. Eles são recebidos pelo diretor executivo da Caseb, professor Armando Hildebrand. A cerimônia oficial, realizada no pátio central, tem início. JK, muito emocionado, começa a falar sob um silêncio magistral, em respeito ao grande homem que ousava mudar o país. Abaixo, trechos da aula inaugural da educação em Brasília, abrindo os cursos ginasial, colegial, clássico, científico e normal da nova capital.

“Nenhum acontecimento é mais auspicioso para esta cidade, depois de sua fundação, do que o ato que aqui nos reúne para oferecer à juventude os quatro cursos completos deste primeiro centro de educação média, ponto de partida do vasto programa com que o governo da República atenderá aos problemas da cultura da capital do país. Duplamente me desvaneço com esta cerimônia: pelo que ela em si mesma significa e pela circunstância de que a mim confiastes a honra de proferir a aula inaugural deste estabelecimento de ensino. Aos jovens brasileiros, que serão os herdeiros da obra iniciada por esta geração, entrego esta casa, sabendo que os coloco no caminho certo que os levará ao Brasil de amanhã, admiravelmente engrandecido e perfeitamente emancipado.”

Quando encerra o discurso, há enorme vibração da plateia, que o aplaude de pé. Verdadeira ovação. Juscelino Kubitschek, que acabava de inaugurar a primeira escola de Brasília, saúda os estudantes com carinho e alegria. Foi uma emoção inesquecível. Mais lindo ainda era ver a cena emocionante dos alunos abraçando e tocando com carinho aquele que representava a esperança da mudança. E Juscelino mudou o Brasil para sempre.

Os jovens de Brasília criaram nova linguagem. A juventude sabia que estava vivendo um momento histórico na construção de uma nova nação. Compreendia que Brasília era o passo inicial para desbravar e ligar o Brasil por inteiro. Nós havíamos deixado para trás nosso passado, história, famílias e vínhamos dispostos a construir o futuro. Os gritos dos moços era o novo som do Brasil. Os alunos falavam diferentes linguajares. De um lado, o grito era gauchês; de outro, carioquês; e também o baianês, o amazonês, o goianês. Enfim, um imenso e diversificado sotaque: a síntese de um Brasil grande. JK abre o coração e se emociona, ouvindo a musicalidade do novo Brasil em Brasília.

O passado inspira o presente e o futuro. Foi esse pioneiro centro de ensino médio, cujo nome se deve à primeira sede, no prédio onde funcionava a Comissão de Administração do Sistema Educacional de Brasília (Caseb), a primeira escola oficial do Sistema Educacional da Nova Capital. Aquele 19 de maio foi, sem dúvida, dia histórico para a educação do Distrito Federal. Guardo memórias preciosas dessa escola. Naquela época, quem entrasse na instituição ficaria encantado, pois encontraria alunos e mestres discutindo sonhos para a educação e ideias para construir uma escola que oferecesse o melhor ensino do Brasil.

Recordo com admiração e saudade os professores da Caseb que vieram para Brasília com a cabeça de pioneiros e se propunham a implantar uma educação que se antecipasse no tempo. Eram profissionais que tinham coragem de ousar e aceitaram a missão de renovar a educação. Todos os velhos paradigmas que se possa imaginar foram quebrados. A Caseb era semelhante a todas as grandes escolas de qualidade do Primeiro Mundo. Uma escola como deveriam ser todas as escolas — de Brasília e do Brasil.


* Doutora em educação, preside a Alumni Caseb (Associaçao de Ex-Alunos e Ex-Professores). Foi primeira presidente do Grêmio Estudantil JK da Caseb (1960) 

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