Correio Braziliense
postado em 21/05/2020 04:05
O Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Universidades (Confies) vem a público alertar as autoridades e a sociedade de provável desmonte de um segmento da pesquisa, de petróleo e gás. A maior empresa brasileira, conhecida por grandes investimentos em pesquisa, orgulho do brasileiro, símbolo da nacionalidade, anunciou em 2 de abril medidas que ameaçam grande desmonte de centenas de grupos de pesquisa em petróleo e gás, caso de sucesso da inteligência nacional.
Apenas uma fundação com quem mantém parceria há anos se prepara para demitir 141 pesquisadores por falta de repasse anunciado. Serão demitidos quase mil pesquisadores no total. Para preservar seu caixa diante da crise deflagrada pela pandemia da covid-19, a Petrobras decidiu suspender parcelas nos próximos três meses de diversos projetos em andamento em 247 laboratórios nas universidades conveniadas.
Levantamento com 39 fundações de apoio de 50 instituições federais de ensino (Ifes), que têm projetos conduzidos por 991 pesquisadores em contratos com a empresa, estão com R$ 431 milhões ameaçados até dezembro. Nunca é demais lembrar que o país se tornou autossuficiente em petróleo há poucos anos por causa desses investimentos em laboratórios das universidades, que agora ameaçam jogá-los fora.
Tal medida, sem qualquer mediação ou diálogo, implica que terão de ser demitidas equipes inteiras de pesquisa construídas ao longo de 15 anos. Desnecessário dizer que a pandemia ensinou ao mundo e ao Brasil —com muito sofrimento, é verdade — sobre a importância de investimentos continuados em pesquisa e em ciência e que essa medida vai na contramão do aprendizado.
A Petrobras — sob o argumento de preservar o caixa da empresa — dá longos passos atrás e ameaça desmontar uma infraestrutura humana capaz de ajudar o país na recuperação econômica e na autodeterminação desse bem estratégico. Joga o país em abismo com vários riscos de retrocessos na independência alcançada na nossa economia, como ficou à mercê de outros países para equipamentos e materiais para combater o novo coronavírus. Parece que esse ensinamento ainda não chegou aos autores da medida.
As quase 30 fundações que gerenciam centenas de projetos em mais de 250 laboratórios de 39 universidades se ressentem da frieza da empresa e da indiferença com que estão sendo tratadas. Afinal, foi com essa parceria, com as melhores universidades do país, que a empresa passou a ser uma das poucas no mundo capazes de explorar petróleo em camadas do pré-sal.
Se nada for feito, esse episódio poderá ser contado como o massacre da pesquisa em petróleo e gás. Cabe à Agência Nacional do Petróleo (ANP) exercer seu papel indelegável de reunir as partes e discutir formas de mitigar os danos da medida que olhou o caixa da empresa, mas desprezou o interesse nacional.
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