Correio Braziliense
postado em 28/05/2020 04:04
No dia 22 de abril, em reunião no Palácio do Planalto, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse que Brasília é um cancro e deveria desaparecer. A desastrada e absurda sentença do ministro provavelmente se refere a uma triste Brasília, que só existe na lamentável memória de escândalos na política, na administração pública e no mundo sombrio dos lobistas e aproveitadores do poder.
A Brasília que seu povo e os visitantes conhecem é uma cidade decente, hospitaleira, amena e patrimônio mundial da humanidade. Certamente, Weintraub pecou em pensamentos, palavras e obras, como aprendemos nas lições de catecismo. Além da infeliz manifestação verbal, o economista e profissional do mercado financeiro, cargos que o qualificaram para cuidar da Educação, blasfemou na história do órgão que dirige.
Não é concebível que um ministério que já foi dirigido por homens ilustres, desde Marco Maciel e Pedro Aleixo, dois vice-presidentes e até o honorável Gustavo Capanema, do governo Getúlio Vargas, pudesse ser ocupado por alguém que insulta a memória de JK e desdenha da obra de um gênio como Oscar Niemeyer. É provável que o ministro seja bem-informado, mas, com certeza, de outras coisas. Abrão, como é tratado pelos colegas, é possível que saiba das denúncias que dormem no subsolo da política e de algumas repartições públicas.
Assim é a Brasília feia e insuportável a que Weintraub deve ter querido se referir. Aliás, referência perigosa. Palavras e gestos que podem levá-lo a responder a incômodos processos penais. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou que Abraham Weintraub seja ouvido pela Polícia Federal para explicar uma declaração na reunião ministerial em que disse que colocaria “vagabundos na cadeia — começando pelo STF”.
Para o ministro Alexandre, a palavra de Weintraub “não só atinge a honorabilidade, como constituiu ameaça ilegal à segurança dos ministros do Supremo Tribunal Federal”. Foram ditas diversas impropriedades, mas, dentre elas, esperamos não se afirmar que a cidade seja um cancro e que deveria desaparecer. Para seus 60 anos, tem saúde de ferro. Resiste ao sol e à seca, da meteorologia ou das ideias. Ela é alegre, festeira e feliz.
Há cidades conhecidas por serem maravilhosas, mas a nossa é monumental. Brasília é poema, alegria, música de todas as regiões, comidas de diversas cozinhas e beleza, imensa beleza que dá vontade danada de sempre morar aqui. Quando todos puderem sair pelas ruas, vão constatar que o Distrito Federal está em obras. Brasília está sendo cuidada para melhorar ainda mais a qualidade de vida da população. Brasília faz o milagre de ser uma cidade de concreto que faz brotar o verde.
O verde é apenas uma das muitas cores que pintam a vida e a felicidade das pessoas que moram na cidade. Os ipês, como um calendário, emprestam as múltiplas tonalidades para marcar os tempos do ano. Branco, lilás, amarelo adornam a copa dos ipês que arborizam a cidade.
Brasília foi feita para os olhos. É humana e só beleza. O mundo diplomático internacional disputa os cargos que os trazem à capital do Brasil. A curiosidade dos que viajam descobre essa cidade branca e verde no nosso Planalto Central. O turismo transformou-se em eixo de desenvolvimento e recursos. Pouco tempo separa o visitante de atrações surpreendentes.
A iniciativa privada e o governo, por meio do Sesc e da Secretaria de Turismo do GDF, fizeram nascer o turismo cívico nesta cidade, onde tudo lembra o amor à pátria. Não muito longe da Praça dos Três Poderes, onde o hasteamento da bandeira nacional mensalmente é uma festa muito alegre e solene, existem roteiros atrativos para o visitante. Há a Rota dos Cavalos, a atração das cachoeiras, a intimidade com a ecologia, assim como a atração mística nas belíssimas igrejas, pagodes budistas, meditação hindu, templos evangélicos e monumentais locais de recolhimento, como a grande pirâmide da Legião da Boa Vontade, onde tudo isso faz a diversidade de programas para o turismo.
Nada melhor para educar as pessoas que injuriam a cidade, que uma lição de Niemeyer: “Jamais viram coisa parecida. De um traço nasce a arquitetura. Quando ele é bonito e cria surpresa, ela pode atingir o nível superior de uma obra de arte”. Aqueles que chegaram de fora e a desprezam, por favor, jamais voltem a ofender Brasília. Lembrem-se de uma sugestão antiga, que talvez conheçam bem: ame-a ou deixe-a.
* Presidente do Sistema Fecomércio-DF
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