Opinião

Visão do Correio: Na mira da Polícia Federal

''Por ordem do Superior Tribunal de Justiça (STJ), os agentes da Operação Placebo tinham por meta recolher provas do envolvimento de Wilson Witzel e da mulher, Helena Witzel, em fraudes ligadas ao combate do coronavírus no estado''

A cena chocou os brasileiros, mais ainda os fluminenses. Fila de viaturas da Polícia Federal se formou diante do Palácio Laranjeiras com homens fardados que se dirigiram à porta de entrada. Levavam mandado de busca e apreensão cujo alvo era a residência oficial do governador.  De lá saíram com documentos, computadores e celulares apreendidos.
 
Por ordem do Superior Tribunal de Justiça (STJ), os agentes da Operação Placebo tinham por meta recolher provas do envolvimento de Wilson Witzel e da mulher, Helena Witzel, em fraudes ligadas ao combate do coronavírus no estado. Miravam contratos emergenciais — dispensados de licitação devido à urgência das medidas para acolher as vítimas da covid-19.
 
Entre elas, a construção de hospitais de campanha e a compra de equipamentos para aparelhá-los. Suspeita-se de que o desvio tenha alcançado a cifra de R$ 700 milhões de um total de R$ 850 milhões de recursos federais destinados ao enfrentamento da crise sanitária que castiga a população.
 
Evidências de corrupção têm merecido a atenção da mídia nacional há tempos. O Correio manifestou-se em editorial a respeito das irregularidades observadas em várias unidades da Federação. No caso do Rio, negócios suspeitos com organizações sociais inidôneas levantaram suspeitas. Entre elas, o Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas) e o Instituto Unir Saúde.
 
Hospitais contratados não foram entregues e outros itens apresentaram problemas. Escorreu pelo ralo da malversação do dinheiro público a soma de R$ 180 milhões. Mil ventiladores foram comprados e nem um trouxe ar para salvar uma vida sequer. Apenas 52 chegaram — todos inadequados para o fim a que se destinavam. Trata-se de um exemplo entre tantos atos suspeitos.
 
Não se deve ao acaso a prisão de autoridade e de empresário figurinha carimbada em falcatruas governamentais fluminenses. Também a primeira-dama figura entre os investigados, cujo escritório de advocacia tem contrato com empresa ligada ao esquema.
 
Wilson Witzel, eleito com a bandeira anticorrupção também hasteada pelo então candidato Jair Bolsonaro, é hoje adversário político do presidente. Ele acusa o ex-aliado de perseguição política e uso nada republicano da Polícia Federal. Lembra a deputada Carla Zambelli, que, em entrevista à Rádio Gaúcha, anunciou que a polícia investigava governadores.
Espera-se que as apurações e os fatos o contrariem. A independência das instituições do Estado são patrimônio da nação — não deste ou daquele hóspede do Palácio do Planalto.