Opinião

Opinião: Genocídio e eugenia

''Apesar da crise sem precedentes e do drama enfrentado por milhares de brasileiros, o governo federal, principalmente o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), negligencia o combate ao novo coronavírus''

Correio Braziliense
postado em 28/05/2020 04:05
Em três meses, mais de 24,5 mil pessoas morreram de covid-19. O número de óbitos supera o de habitantes em pelo menos 4.115 municípios brasileiros, onde o número de moradores varia entre 781 e 24,5 mil. Apesar da crise sem precedentes e do drama enfrentado por milhares de brasileiros, o governo federal, principalmente o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), negligencia o combate ao novo coronavírus. Governadores e prefeitos que adotaram medidas de sucesso no controle da covid-19 são apontados por setores da sociedade, pelo presidente e ministros como inimigos do país. As consequências do descaso estão aí para quem quiser ver. 
 
Em pelo menos 11 estados, o crescimento acelerado de doentes e mortos levou ao lockdown. O desemprego aumentou, comércios fecharam as portas e, nesta semana, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, proibiu a entrada de brasileiros no país, devido ao aumento de casos por aqui. Mas, em solo verde e amarelo, a covid-19 continua sendo tratada como “uma gripezinha” e, se muitos vão morrer, “e daí?”. O nome disso é genocídio. Para quem não está familiarizado com o conceito, é bom lembrar.
 
O termo surgiu na década de 1940 para nomear as atrocidades dos nazistas contra os judeus. Em dezembro de 1948, a Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio, da Organização das Nações Unidas, definiu que esse é um crime contra a humanidade. E detalhou os meios pelos quais se pratica o genocídio: assassinato de membros do grupo; atentado grave à integridade física e mental de membros do grupo; submissão deliberada do grupo a condições de existência que acarretarão a sua destruição física, total ou parcial; medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; transferência forçada de crianças de um  grupo para outro.
 
A pandemia que começou no topo da pirâmide social chegou há muito à base dela e, sem as medidas de controle, vai dizimar parte dos brasileiros. Não qualquer brasileiro: predominantemente, os pobres (jovens ou não), os negros, os que lutam com doenças crônicas e idosos. Resumindo, os mais vulneráveis, como sempre. 
 
Ao não tomar as medidas necessárias no enfrentamento à pandemia, o presidente da República e sua equipe poderão, num futuro breve, enfrentar os tribunais internacionais e serem responsabilizados pelas mortes em massa no país. O Brasil apoiou a criação do Tribunal Penal Internacional por entender o avanço que representa uma corte imparcial e independente. 
 
Mas, antes disso, a população brasileira e parte do setor produtivo que tanto pressiona pelo fim das medidas de isolamento social em nome da economia poderão enfrentar barreiras econômicas e sanitárias, com embargo de exportação dos produtos nacionais, inclusive do agronegócio. Ainda dá tempo de mudar o curso dessa tragédia que aponta para um projeto de eugenia no país.
 
 

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