Opinião

A pandemia e o trabalho formal

Correio Braziliense
postado em 29/05/2020 04:04
A pandemia do novo coronavírus, que a cada dia ceifa mais e mais vidas de brasileiros e suprimiu a renda de milhões de trabalhadores informais, também é responsável pelo fechamento de mais de um milhão de empregos com carteira assinada no segundo bimestre deste ano, o pior resultado desde o início da série histórica da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho (antigo Ministério do Trabalho), órgão agora vinculado ao Ministério da Economia. São exatos 1.101.205 postos formais de trabalho extintos no país, entre março e abril, número que poderia ser pior se o governo não editasse a Medida Provisória 936, que permite a redução de salário e jornada para evitar mais demissões.

Levantamento do Cadastro Geral de Empregos e Desempregados (Caged), divulgado anteontem, é o primeiro retrato do estrago causado pela pandemia no mercado de trabalho do Brasil, que estava em dificuldade de se recuperar, com vigor, mesmo antes do surgimento da covid-19. Desde que o país saiu da grave recessão de 2015 e 2016, a expansão nas contratações é um problema que tira o sono das autoridades e dos agentes econômicos. Houve alguma recuperação, mas muito aquém do esperado para tirar da informalidade milhões de trabalhadores sem emprego com carteira assinada.

O resultado da pesquisa do Caged levou economistas a projetarem, em 2020, o fechamento de até 3,5 milhões de vagas no mercado de trabalho no comércio, serviços, indústria de um modo geral e construção civil, entre outros setores econômicos. Esse resultado seria pior do que o registrado na última estagnação da economia, quando houve a perda de 2,8 milhões de postos formais no acumulado dos dois anos.

Foram fechadas 240.702 vagas em março passado, quando o impacto da crise causada pela interrupção das atividades não essenciais, devido ao isolamento social, ainda era pequeno. Em abril, com o recrudescimento da quarentena, o número foi de 860.503. Como a expectativa é de que, em um ano, o mercado de trabalho sofrerá impacto maior do que os de dois anos da recessão, especialistas cobram mais comprometimento e agilidade do governo federal no socorro às empresas, milhares na iminência de fechar as portas.

Os anúncios da liberação de créditos são muitos, mas maiores ainda são as queixas de empresários por causa da dificuldade de acesso a eles, além dos altos juros cobrados pelas instituições financeiras, que tornam o empréstimo praticamente inacessível para os pequenos e médios empreendedores. O que se espera é que o governo implemente, realmente, ações para injetar recursos nas empresas, a fim de evitar falências generalizadas, e preserve, ao máximo, os empregos formais.
 
 

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