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Correio Braziliense
postado em 30/05/2020 04:04

Eleitores são escravos do voto

Não são incomuns que transgressões, como corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, estelionato e outros crimes correlatos, se encontrem para acertar a melhor forma de branquear os recursos desviados ou combinar novos modus operandi para tornar essas operações mais invisíveis ou lucrativas a todos. O corrupto necessita do doleiro ou de um empresário ladino para disfarçar os recursos surrupiados. O doleiro ou o empresário necessita do político corrupto para agilizar e dar aparência legal aos seus desatinos. De fato, num tempo indeterminado ou num ponto qualquer, todos acabam mergulhando em águas turvas e se confraternizam, festejando o resultado do butim.

Quando o ministro Abraham Weintraub disse: “Eu não quero ser escravo nesse país. E acabar com essa porcaria que é Brasília. Isso daqui é um cancro de corrupção, de privilégio. Eu não quero ser escravo de Brasília. Eu tinha uma visão negativa de Brasília e vi que é muito pior do que eu imaginava”.  Essa Brasília a que se referiu o ministro é a que abre os braços para receber os políticos eleitos pela população do país.  Nenhum deles ocupa lugar no Supremo Tribunal Federal (STF), no Congresso Nacional ou no Palácio do Planalto sem legitimidade.

A capital tem sido esse ponto de encontro de gente de todos os estados, onde as agendas que desagradam aos eleitores se dão regadas a acepipes e vinhos de altíssimos valores. Exemplos dessa prática mal cheirosa são abundantes nas cercanias do Poder, nos chiques restaurantes, nos hotéis de luxo e em outros lugares exclusivos. Interessante que, nesse caso, não é precisamente nem o tempo nem o lugar específico onde esses encontros se dão, mas o próprio fato deles se repetirem num compasso até monótono. Muitos desses convescotes têm ocorrido nas residências oficiais, onde, de comum acordo, todos deixam seus celulares na entrada.

Somente o fato de existirem encontros dessa natureza, longe do olhar e dos ouvidos do povo, num país que se declara como República, é bastante insólito e estranho. A questão aqui é que, de uma forma ou de outra, esses indivíduos, sejam eles identificados como notórios corruptos, sejam doleiros de alto calibre ou mesmo políticos inocentes, acabam se misturando nessas festas, bebendo e brindando o ano proveitoso para todos. A interdependência desses elementos assegura a todos a própria sobrevida do grupo. Poderosos politica ou financeiramente se protegem mutuamente. Enquanto uns conferem o cartão verde e o passe livre aos articuladores dos recursos que voam livremente de um ponto a outro, outros garantem o azeitamento com farto dinheiro para que esses próceres da República não se preocupem com questões banais, como moedas.

As revelações produzidas, quer pela Operação Lava-Jato e congêneres, quer pela própria delação feita de muitos acusados, têm ensinado muito sobre esses cruzamentos entre o poder e o dinheiro. Na verdade, existe um ponto geográfico bem determinado e, em comum, onde todos esses personagens atuais da história brasileira se encontram e realizam a fase final de seus crimes, fisicamente ou na forma de fantasmas. Esse ponto específico foi por demais devassado ao longo dos anos. Era nada mais, nada menos, do que os cofres do Tesouro Nacional, qual a população confia compulsoriamente suas economias e as raposas deitavam e rolavam ao som do Hino Nacional.

  • A frase que foi pronunciada

    “Quem entra a introduzir uma lei nova não pode tirar de repente os abusos da velha”

    Padre Antonio Vieira, religioso, filósofo, escritor e orador português da Companhia de Jesus.

Insustentável

» Escolas pressionam pais para continuarem a pagar mensalidade da criançada da primeira infância. Meninos e meninas de 4 anos continuam recebendo aulas on-line com diretores irredutíveis em dar desconto. Mesmo que as mães estejam exercendo o papel dos professores, orientando as tarefas. A iniciativa é tão insidiosa que há ameaças lembrando que crianças de 4 anos precisam obrigatoriamente estar matriculadas. Ou o governo toma uma medida sobre esse assunto, ou a volta à normalidade será outra guerra.


Boa solução

» Com os parques fechados, núcleos familiares de moradores do Sudoeste se aninham em sombras do Eixo Monumental para piquenique ou simplesmente espairecer. Brasília é uma cidade parque.


Igrejinha

» Maio quase ao fim e a festa da Igrejinha não aconteceu no mês Mariano pela primeira vez.

  • História de Brasília

    O caso do leite desse supermercado não foi bem explicado. O leite está se perdendo por falta de refrigeração, e não deve ser reduzida a cota, porque, na entressafra, haverá dificuldade para receber a quantidade necessária ao consumo da cidade, como aconteceu no ano passado. (Publicado em 8/1/1962)

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