Opinião

Artigo: Pesar por Rhuan

Rhuan conheceu a face mais cruel da raça humana. Apenas um menino, indefeso, à mercê de um ódio descomunal simplesmente por existir


A rotina de torturas, o martírio da mutilação e a morte brutal aos 9 anos de idade. Por que Rhuan Maycon teve de sofrer tanto? Por que, em sua curta existência, não teve direito a amor, a colo? Por que ninguém o ajudou? Amanhã faz um ano que a vida dessa criança foi tirada barbaramente, e as perguntas continuam a martelar. Pelo menos, na minha cabeça. Sinto um misto de revolta, tristeza, impotência.

Rhuan conheceu a face mais cruel da raça humana. Apenas um menino, indefeso, à mercê de um ódio descomunal simplesmente por existir. No seu mundo solitário, aguentou em silêncio os abusos diários. Não tinha o direito de sair à rua para brincar, de ir à escola. Mas a sádica a quem chamava de mãe queria vê-lo padecer mais. E num crime de perversidade atroz, cortou-lhe o pênis e os testículos numa “cirurgia” caseira. Nada de médicos, nada de remédios para atenuar o sofrimento.

Como complicação da mutilação, ele sentia dores lancinantes para urinar. Um ano depois, o monstro levou a cabo a barbárie final. Assassinou o filho a facadas. O primeiro golpe, desferido enquanto o menino dormia. Ela o degolou ainda vivo, esquartejou o corpo e tentou queimá-lo. É o terror no nível mais hediondo que o ser humano pode perpetrar.

O suplício de Rhuan, num dos crimes mais medonhos da história deste país, não pode ser esquecido. É para ficar marcado em cada um de nós. Em mim, ficou. Minha mente cria imagens da agonia dele, perco o sono, choro. Às vezes, o ar parece não ser suficiente. É uma aflição que, em maior ou menor grau, tem me acompanhado nestes 12 meses, como se tudo tivesse acontecido ontem.

A fé me diz que, agora, Rhuan descansa. Que o Deus em quem acredito o cerque do amor e do carinho que lhe foram negados neste mundo de horrores. Devia ser suficiente para aplacar a tristeza e sossegar o coração. Mas não é.