Opinião

Opinião: Nem a pandemia para o racismo

''Floyd não é o primeiro e, se realmente ninguém fizer nada, não será o último''

Correio Braziliense
postado em 02/06/2020 04:05
Quando o coronavírus se tornou uma pandemia global foi como se o mundo inteiro estivesse na mesma luta contra um único inimigo mortal em comum: a covid-19. Por um momento, nossos olhos foram fechados para todos os outros problemas, porque achávamos que estávamos todos no mesmo barco. Uma ilusão que logo passou.

Apesar de estarmos vivenciando coisas parecidas durante a quarentena, a doença não acabou com outras mazelas, pelo contrário, expôs o que temos de pior: a desigualdade. Disparidade essa que, na pandemia, resultou no aumento do desemprego e da violência doméstica e ainda na maior mortalidade da doença nas periferias e nas classes mais pobres. Já não bastasse tudo isso, nem mesmo uma epidemia mundial foi capaz de cessar outro problema antigo que a maioria das nações finge não existir: o racismo.

Foi enquanto lamentávamos as vítimas da covid-19 que também nos chocamos com as mortes brutais de dois negros: o menino João Pedro, de apenas 14 anos, assassinado dentro de casa em uma ação policial no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, e do segurança George Floyd, asfixiado até a morte numa rua em Minneapolis, nos Estados Unidos, por policiais, em ato que foi filmado.

A morte de Floyd desencadeou uma série de manifestações nos Estados Unidos. Os atos pedem justiça pelo segurança, mas, mais do que isso, são uma resposta há anos de tensão racial naquele país, principalmente, envolvendo a polícia e a comunidade negra. Floyd não é o primeiro e, se realmente ninguém fizer nada, não será o último.

O cenário nos Estados Unidos expõe também que somos mais parecidos do que imaginávamos. Aqui, no Brasil, também há um racismo estrutural e velado, que parece ser sem fim. João Pedro perdeu a vida, como tantos outros negros, adultos e crianças, por conta dessa supremacia branca que coloca os negros em inferioridade, seja os impedindo de ocupar os espaços de poder, seja ceifando suas vidas antes mesmo de qualquer coisa.

É por isso que o grito “vidas negras importam” ecoa nos Estados Unidos e começa a ecoar com mais força por aqui também. Estamos todos cansados de ver corpos negros no chão, da violência gratuita e das ofensas criminosas. Queremos todos, simplesmente, respirar. Essa luta é de todos. Mais do que não ser racista, é preciso ser antirracista.




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