Opinião

O futuro não é mais como antigamente

''Quando avalio o atual estágio da realidade planetária e particularmente brasileira, coincido na íntegra com a afirmação do historiador Yuval Harari (autor de Homo sapiens, Homo Deus e 21 Lições para o século 21) de que perderemos feio para esta pandemia do coronavírus se não mudarmos a tendência populista de chefes de Estado que pregam a rivalidade, o individualismo e a competitividade separatista em detrimento da união, da solidariedade e do senso coletivo global''

Correio Braziliense
postado em 02/06/2020 04:05
Não se assuste se eu afirmar que, em 30 anos, a mente do ser humano poderá ser imortalizada por meio da transferência de dados para um supercomputador quântico. No ano do centenário de Isaac Asimov, criador das Três leis da robótica, o que chamo de pós-futuro — retratado em mais de 500 obras acadêmicas e especialmente de ficção científica — é caminho real e inevitável.

Kyrzweil, por sua vez, fala sobre o tema da singularidade e prevê que a superioridade dos computadores sobre a capacidade de processamento do cérebro humano, aliada à intensa aplicação da inteligência artificial, permitirá que, em 2045, possa ser alcançada a transferência de mentes humanas para um computador quântico, iniciando a imortalidade humana, conforme destacou a revista Times na edição de 21.2.2011 com o tema: “2045, o ano em que o homem se tornou Imortal”.

Nela constam essa e outras previsões do engenheiro Raymond Kurzweil, considerado o mais assertivo de todos os futuristas da atualidade. Ele, um dos fundadores da Singularity University, na Califórnia, afirma que, em 2045, a capacidade de processamento homem-máquina somados será 1 bilhão de vezes mais poderosa que a do cérebro biológico. Nesse instante, a singularidade terá sido alcançada. Mas o que isso tem a ver com a imortalidade? Tudo, pois há anos iniciaram e seguem avante com a experiência de mind upload (sublimação), ou seja, a transferência de uma mente humana para um computador quântico, onde seriam imperceptíveis quaisquer diferenças, incluindo emoções, memória e personalidade.

Vamos à analogia simplória. Se o seu celular cai e se quebra de forma irrecuperável, o que você faz? Adquire outro possivelmente mais avançado e reincorpora os dados no novo aparelho, certo? Declarações de amor, músicas, vídeos que você baixou, foto dos seus pets, etc. A memória profissional, afetiva, os documentos pessoais, tudo que o identifica renasce no estágio anterior da perda (apagou, mas nunca deixou de existir). É um alívio danado poder ressurgir no novo corpo e voltar a falar, interagir, tudo como sempre e talvez até melhor. Eis o que Kurzweil prevê para daqui a 25 anos.

Quando avalio o atual estágio da realidade planetária e particularmente brasileira, coincido na íntegra com a afirmação do historiador Yuval Harari (autor de Homo sapiens, Homo Deus e 21 Lições para o século 21) de que perderemos feio para esta pandemia do coronavírus se não mudarmos a tendência populista de chefes de Estado que pregam a rivalidade, o individualismo e a competitividade separatista em detrimento da união, da solidariedade e do senso coletivo global. Harari acrescenta que os extremistas têm em comum a característica sectário-religiosa e a desvalorização do conhecimento científico.

Sem solidariedade e valorização do pensamento científico, os avanços tecnológicos poderão representar grande risco para a humanidade, vez que o atual estágio evolutivo do conhecimento é, segundo o próprio pensador, irrefreável. Asimov, décadas atrás, escreveu: “Tornou-se muito comum, nas décadas de 1920 e 1930, retratar os robôs como inventos perigosos que, invariavelmente, destruiriam seus criadores. A moral dessas histórias apontava, repetidas vezes, que ‘há coisas que o homem não deve saber’. No entanto, mesmo quando eu era jovem, não conseguia acreditar que, se o conhecimento oferecesse perigo, a solução seria a ignorância”.

Se o neo-humanismo levará em conta a convivência com os robôs já verificados na manufatura aditiva da indústria 4.0, nas impressões de órgãos humanos, nos devices embarcados no corpo (inside technologies) ou na conexão direta do córtex cerebral na internet 5G, como promete Erlon Musk por meio de sua empresa Neuralink, eu não sei. Mas tenho a certeza de que a inteligência artificial e quaisquer outras tecnologias assemelham-se à energia que, em si, não é boa ou ruim, depende do direcionamento que damos a ela. Quando bem canalizada, nos proporciona a luz elétrica e, quando mal canalizada, a bomba atômica. Como dizia o poeta Renato Russo, da Legião Urbana, “o futuro não é mais como era antigamente”. Você concorda?


* Empresário, mentor de empresas, palestrante e futurista, é presidente do Instituto Iluminante de Inovação Tecnológica e Impacto Social 

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